Novela da Minha Vida Profissional

ULTIMA HORA

 Tive o privilégio de trabalhar na Edição Nordeste do combativo jornal “Ultima Hora”, cuja redação ficava na Rua Visconde de Goiana, na Boa Vista. Era editor de uma coluna sobre o Rádio e a TV. Não era simplesmente um jornal.  Era uma escola de jornalismo. Não havia espaço para o corriqueiro. Textos e ilustrações eram tratados com mais rigor, objetividade e competência. Lembro de um fato que faz a diferença desse Jornal. No dia da Procissão do Senhor Morto pelas ruas do Recife o diretor Mucio Borges da Fonseca chamou o chefe do departamento fotográfico, Clodomir Bezerra, e solicitou uma foto do evento, mas que não aparecesse padre, freira e até mesmo o andor da procissão.  Clodomir gastou vários rolos de filmes fazendo inúmeras fotos, mas em todas apareciam as figuras ‘condenadas” pelo diretor do jornal. Desanimado, ele retornava para a redação,  quando avistou uma criancinha sentada no meio-fio da Ponte da Boa Vista, vestida como se fosse um anjinho, de mãos postas, como se estivesse rezando. Clodomir fez a foto, que foi a capa da primeira pagina do UH-N do dia seguinte, passando para o leitor todo o sentimento do ato religioso  O jornal era assim: surpreendente. Fechou por força do regime militar depois de 22 meses de existência.


(Miguel Santos)