Novela da Minha Vida Profissional

Novela da Minha Vida:Verdade ou Mentira


Polemico, irreverente, ousado, destemido, “Verdade ou Mentira” foi um programa que se notabilizou na TV nordestina no ano de 1980.  Ninguém até hoje conseguiu fazer algo igual, envolvendo pessoas conhecidas da sociedade.  Foi noticia nos grandes jornais e nas revistas nacionais de maior  circulação, como a “Veja” e “Isto É”.  Toda semana repercutia nas paginas dos jornais com comentários favoráveis e contraditórios   em torno dos personagens que enfrentavam inquisidores corajosos, que não mediam esforços em fazer colocações para saber o que era verdade e o que era mentira em relação aos  fatos mais contestadores da vida dos entrevistados.
     O programa considerado de mais “baixo nível” foi com o babalorixá Pai Edu. Um telespectador chegou a escrever na secção ”Cartas`a Redação”, do Jornal do Commercio: -“O babalorixá Pai Edu, entrevistado num programa de televisão,   tendo à sua frente pessoas ilustres como jornalista, advogado, pastor evangélico, sociólogo e parapsicólogo, ofendeu, de maneira gritante, não apenas a dignidade da sociedade, mas o nome do próprio  Deus e de seu filho Jesus Cristo. O “infame” babalorixá zombou daqueles homens ilustres que o entrevistaram, num cinismo e falta de pudor que fizeram tremer  os céus e a Terra.”
       Outro debate que deu repercussão no Brasil inteiro foi com a  deputada Aracy Nejaim, ex-esposa do então prefeito de Caruaru, Drayton Nejaim. Na Revista “Veja” o caso foi relatado assim:
         “PREFEITO CASSA ENTREVISTA DA EX-MULHER NA TV. –
O Prefeito de Caruaru mandou desligar a estação repetidora de televisão da
cidade  para evitar que o eleitorado local assistisse a uma entrevista da sua ex-mulher  Aracy Alves de Souza, no programa  “Verdade ou Mentira”, da TV-Jornal do Comercio do Recife.  No programa Aracy contou a historia de sua convivência com Nejaim.  Depois de chamá-lo de “safado”, Aracy acusou o prefeito de “caloteiro”, por ele haver se recusado a pagar   pensões  alimentícias.” -  A matéria ocupou uma pagina inteira da Revista.
Na “Isto é” a manchete foi esta: “PREFEITO CENSURA SUA EX-MULHER” - a Revista também dedicou uma pagina ao fato, ilustrada com fotografias  do casal. 
          Eu fazia a produção do programa, com supervisão de Jorge José e apresentação de José Maria Marques. Ia ao ar aos domingos, por volta das 
11 da noite.  Havia sempre pessoas que se recusavam a   partiripar  do programa pelo impacto que ele causava na sociedade. Lembro que tentei levar para a cadeira do “Verdade ou Mentira”  o polemico atacante Dario Maravilha, que jogava pelo Sport.  Ele foi incisivo: - “Meu caro, esse programa está dando muito Ibope. Só vou por tanto. ...”   e revelou quanto queria  em dinheiro para participar. O programa não tinha verba para isso e Dario não foi “saco de pancadas” no programa.                                     
        Outras participações surpreendentes, foram a jornalista Fátima Bahia,  o delegado de policia  João Acioly,  o vereador Brás Batista,  o diretor do DETRAN Walter Benjamin, o “rei do melaço” Gileno de Carli, o professor Abdias do Nascimento, que chegou a revelar que o Brasil era o país mais racista do mundo e terminou abandonando o programa diante das duras perguntas dos entrevistadores, entre eles o antropólogo Roberto Mota.
    
           Até hoje, não houve um programa de Televisão em Pernambuco que conseguisse  superar a popularidade do “Verdade ou Mentira”.  A TV-Cultura,  de São Paulo,  mantem o “Roda Viva”, mas não chega aos pés da ousada, corajosa e polemica atração da TV-Jornal.  De saudosa memória...


Pagina da Revista “Isto é”

Novela da Minha Vida: Elefante e Confusão

        Como produtor-executivo do “Programa Jota Ferreira”, transmitido ao vivo  do   estúdio-auditorio da TV-Jornal,  enfrentei varias situações inusitadas.   Programa de grande audiência nas tardes dos sábados, sempre  com o auditório lotado, a atração tinha o formato de variedades, com quadros de calouros,  participação de artistas de passagem pelo Recife e outras  atrações, que preenchiam  três horas de duração.  Era um programa completo dentro de suas limitações, com quadro próprio de  bailarinas, grupo musical com 7 musicos  e tudo que um  programa de variedades exigia.  Pelas pesquisas, em muitos sábados o programa superava a audiência do inesquecível  Chacrinha, que mantinha um programa semelhante na Rede Globo.
          Eu ficava comandando os passos de Jota Ferreira posicionado diante dele  no espaço entre o palco e a platéia. Usava  um interfone para me comunicar com a suíte e o operador do som.  Tinha  dois bons auxiliares: Zuca Show e Wilson Silva, este ultimo  coordenava os ensaios dos calouros do programa, no meio da semana.
          Os artistas do sul do  País,  que viam ao Recife,   invariavelmente,  participavam do programa para divulgação de seus shows e de seus discos.
 A produção se encarregava também de buscar atrações e uma delas fui encontrar  em um  circo de categoria  internacional que fazia temporada na cidade.  Após assistir ao espetáculo  a direção do circo pediu que eu escolhesse um dos números para apresentar no programa, em troca da promoção da temporada.  Optei pelo elefante que fazia malabarismos. Sabia que não haveria qualquer problema  de espaço físico para que o animal adentrasse ao palco, porque as instalações da TV Jornal permitiam grandes montagens.
            O elefante chegou com  o seu domador na hora marcada. Na ampla área da cenografia do Canal 2, onde são montados e guardados os cenários dos programas, fizemos um pequeno ensaio.   Jota subiria no  elefante e daria uma volta pelo palco.  Quando Jota anunciou o elefante do circo e este entrou em cena o au    ditório veio abaixo. E quando Jota foi pego pela tromba e jogado no dorso do animal houve até desmaios de algumas  ”fanzocas” diante da coragem do apresentador do programa.  
              Eufórico e emocionado, Jota procurou no final do programa o fotografo  “Lambe-Lambe”, como era conhecido,  que costumeiramente fotografava tudo o que acontecia no programa  para depois vender copias das fotos entre os artistas, convidados e as pessoas do auditório. Jota disse para o fotógrafo:
              -  “Quero copias de todas as fotos em que apareço com o elefante.”
                
               Aí, veio a resposta de “Lambe-Lambe”, que Jota não queria ouvir:   
               - “Seu Jota, a máquina estava sem filme. Eu esqueci  de carregar.
                Nessa época, não havia ainda a fotografia digital e Jotinha deixou de guardar para sempre  o inesquecível momento em que passeou no dorso do gigantesco animal...
                 Uma realização que marcou a historia do programa foi o “Campeonato das Feirinhas”, reunindo representações das feirinhas típicas que  funcionavam nos bairros do Recife criadas pela Prefeitura, na administração do Prefeito Gustavo Krause.   Os bairros se agitavam  e
havia uma concorrência muito saudável entre os feirantes.
                 A audiência do programa era tão consagradora, que permitiu que fosse realizado um grande  show comemorativo do primeiro aniversário no no Geraldão, em 1981,  com casa lotada e a  presença de consagrados nomes do cenário artístico nacional.
                Outro  fato  inusitado aconteceu já nos últimos instantes de um programa.  Eu estava passando o nome do próximo cantor, através de uma “dália” (uma cartolina com o nome que eu mostrava para Jota anunciar – não existia ainda o ponto eletrônico), quando observei uma agitação entre as bailarinas.  As  tapadeiras  que  compunham o cenário também balançavam. Não havia dúvida de que estava acontecendo algo fora do comum nos bastidores. Imediatamente, troquei a “dália” com o nome do cantor   e apresentei outra, na qual estava escrito “Chama intervalo”.
           Quando os comerciais começaram a ser exibidos corri para saber o que estava acontecendo.  Era  Zuca  com um revolver na mão,  correndo atrás de um  calouro que havia se insinuado para pegar na coxa de uma das bailarinas. O corre-corre pelos estreitos  corredores dos bastidores apavorou todo mundo.  Gritei para Zuca e ele me atendeu:
            -“O cabra safado merecia um tiro na testa.”
           Acalmei Zuca,  ele esfriou a cabeça e seguimos para concluir aquele programa que poderia ter dado oportunidade de Jota noticiar mais um crime como repórter policial  em pleno  auditório do Canal 2. 

           Ainda bem que tudo terminou em paz.
Momento de homenagem no Programa Jota Ferreira.   Na foto, Zuca, a bailarina Dalva  e o comandante do programa. 

Novela da Minha Vida: Minha Estréia no Cinema

      Minha primeira e também ultima participação no Cinema foi algo que me  surpreendeu, do mesmo jeito como foi minha atuação  ao lado da estrelissima  Bibi Ferreira no teatro.
       O cineasta Jarbas Barbosa, irmão do Velho Guerreiro Chacrinha, veio filmar aqui no Recife  “Juventude e Ternura”, o longa-metragem que marcava a estréia de Wanderléa -  Rainha da Jovem Guarda -  no cinema.
A cantora estava no auge da fama, com várias musicas nas paradas de sucesso.  Eu  trabalhava na  TV-Jornal do Commercio,  na área administrativa,  e fui encarregado de dar apoio ao evento.   Jarbas queria que a estrela  Wanderléa, fosse recebida por uma multidão no aeroporto.
Queria também uma apresentação especial do programa “Bossa 2”, comandado por José Maria Marques, onde ela faria uma participação como cantora consagrada pelo publico jovem. Havia também no roteiro do filme cenas nas praias de Boa Viagem e Candeias  e  na recepção do Grande Hotel. Durante uma semana fizemos ampla  divulgação dos  eventos e tudo saiu como o cineasta  desejou: multidão no aeroporto,  auditório lotado e eu fazendo das tripas coração para que toda a equipe  de filmagem transitasse livremente  nas áreas escolhidas para as tomadas de cena. Foi produzida uma audição especial do programa “Bossa 2”,  que era comandado pelo saudoso José Maria Marques. Além das cenas no auditório, com Wanderléa cantando acompanhada de conjunto musical e bailarinas e sendo delirantemente aplaudida pelo público do auditório, foram feitas cenas nos controles de áudio-e-video, onde o ator  Anselmo Duarte, aparece exigindo um melhor enquadramento na imagem da cantora, já que ele interpreta no filme o papel de empresário de Wanderléa.
          “Juventude e Ternura” é um filme romântico e musical por excelência. Produzido por “JB Produções Cinematográficas Ltda.”, com direção do competente cineasta Aurélio Teixeira, fotografia de José Rosa e direção musical de Erlon Chaves. No elenco, além do consagrado galã Anselmo Duarte, participam  Enio Gonçalves, Bobby de Carlo, entre outros.   
           Fiquei o tempo todo colaborando com  o diretor do filme  e na cena em que Wanderléa concedia uma entrevista coletiva no hall do Grande Hotel Jarbas pediu:
         - Miguel arranja por aí dois ou três repórteres para participar da cena.
Você mesmo será um deles. Bote paletó e gravata e vá pro hotel. Lembro que convidei Hélio de Oliveira, que era o produtor do “Bossa 2”, para dar uma de repórter também.
            Nunca pensei que um dia seria protagonista de um filme nacional, Botei o terno e segui para o hotel. Luzes.... câmeras.... ação.  Todos a postos, após um rápido ensaio, e tudo saiu de primeira.  A “avant  premiere” do filme  no dia 20 de abril de 1968, teve como patronesse dona Lotinha Pessoa de Queiroz, que doou toda a renda da bilheteria do Cinema São Luiz  para a Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer.

Com  o cinema lotado, compareci à estréia para avaliar o meu desempenho. Eu apareço fazendo  uma pergunta a Wanderléa, embora minha voz tenha sido dublada. A cena dura uns 10 a 15 segundos, mas dá prá reconhecer quem eram os personagens. Quem me conhece logo me identificou na cena.

 Matéria publicada no jornal Diário da Noite, em 20/04/1968. 

Além de haver permanecido em cartaz por 15 dias no cinema São Luiz, alguns anos depois o filme foi exibido na Rede Globo e na TV Educativa, inclusive numa homenagem a Anselmo Duarte no dia de seu falecimento.  Para os incrédulos ou invejosos, informo que tenho o filme inteiro,  gravado em DVD e a foto abaixo é uma cena do filme.
Wanderaléa numa entrevista para o rádio.
Ao meu lado o jornalista Paulo Granja.


Miguel Santos aparece no filme entrevistando a estrela
Wanderléa. Ao lado, o galã do cinema brasileiro, Anselmo
 Duarte, ao lado de Hélio de Oliveira.  A cena foi gravada no “hall” do
Grande Hotel, na época o mais luxuoso da cidade.




Novela da Minha Vida: Meu Bairro é Maior

As competições realizadas pela Televisão sempre tiveram uma boa  aceitação por parte dos telespectadores. A experiência começou na TVU com o programa “A Noite é do 11” e ganhou um vulto maior quando  produzimos o “Meu Bairro é o Maior”, na TV-Jornal do Commercio.  Antes disso, a Emissora já havia realizado um torneio semelhante envolvendo as principais cidades do interior do Estado.
         “Meu Bairro é o Maior” proporcionou uma participação  ativa das lideranças comunitárias, das instituições de ensino, das agremiações sociais,  enfim, de todas as pessoas que se empenhavam para que o seu bairro conquistasse o premio maior do programa, que era a construção de uma nova praça por parte da Prefeitura do Recife, que dava apoio institucional  à competição.
           O programa tinha um sentido de  revelar valores artísticos, dando oportunidades a novos  cantores, compositores, dançarinos, atletas amadores, além de uma gincana  de conhecimentos gerais  e um show livre  que era organizado e apresentado pelos próprios  bairros disputantes.
            A comissão que julgava as tarefas era constituída por jornalistas, professores,  universitários e outros segmentos da sociedade.  Durante praticamente  todo segundo semestre de 1973 o programa apresentou cerca de 24 bairros do Recife, sempre aos sábados na programação noturna do Canal 2, com direção de Jorge José, apresentação de José Maria Marques, produção  de Miguel Santos e coordenação de Djalma Miranda e Marcio Maia. 
             Como a disputa era muito acirrada em vários momentos era preciso a ação de agentes de segurança para conter os ânimos dos mais exaltados. Alguns  lideres comunitários ficaram mais conhecidos nos seus bairros por causa  da visibilidade do programa, e um deles chegou a  se candidatar a vereador na eleições municipais.
              A grande final da maratona  foi entre os bairros de Casa Amarela e Arruda, vencendo este ultimo numa disputa realmente muito empolgante. O prefeito do Recife em exercício,  Wandenkolk  Wanderley entregou o troféu ao bairro vitorioso. Em seguida,  os participantes e a torcida  que estavam na Televisão,  saíram pela Rua do Lima até ao Arruda, proporcionando  um verdadeiro  Carnaval fora de época na cidade.
           Outros bairros que se destacaram na competição:  Iputinga,  Torre, Estância, Cajueiro, Tejipió,   Beberibe, Casa Forte e Vila do IPSEP.             
Na página seguinte a reprodução de uma das reportagens que o Jornal do Commercio costumava fazer a respeito do programa.


Novela da Minha Vida: Guina Quanta Saudade

Aguinaldo Batista de Assis, pernambucano de  Palmares, era um moço modesto,  sempre bem humorado, corpo franzino, um tanto ou quanto feio de aparência, mas uma alma boa, compreensiva, um homem de caráter como poucos, apesar de ter sido um humorista. Nasceu com o gênio do humor nas veias e com o desejo de só fazer o bem.
          Conheci Aguinaldo Batista através do comunicador Walter Lins, na Rádio Clube.  Havia feito uma entrevista com Walter para a “Revista do Radio”,  editada no Rio de Janeiro e distribuída  para todo o Brasil. Eu  era representante-corrrespondente  e mantinha uma coluna semanal com as
noticias do radio pernambucano. Era uma época próxima do Carnaval. Walter Lins comandava o   “Carrocel”,  que era apresentado no pequeno auditório da Radio Clube.  Dei a idéia de produzir uma revistinha carnavalesca para o programa.  Ele gostou da sugestão e disse que ia me apresentar a Aguinaldo,  ídolo do grande publico,  com seus quadros humorísticos. Grande parte de sua  imensa popularidade se devia ao tipo “Azarildo”, que ele interpretava  no programa “Atrações do Meio-Dia”.
            No dia da apresentação, pensei comigo:
              - “Esse cara vai me levar na gozação”.
            Aconteceu o que eu jamais esperava. Aguinaldo apoiou a minha idéia, ajudou-me  a passar tudo para o papel e realizamos juntos a revistinha, que  teve a participação de atores, cantores, músicos e dançarinos e causou tanto sucesso que foi repetida na semana seguinte.
Daí  em  diante,  não nos largamos mais. Ficamos amigos inseparáveis.
Para onde um ia o outro  ia também.  Amigão nosso  também era oJosé Augusto Branco, que ainda atua na Rede Globo morando no Rio de Janeiro. Sempre magrinho, mas com um coração do tamanho de um elefante, Aguinaldo era admirado por todos,  colegas,  ouvintes,  telespectadores, todos enfim.  Certa feita, ele me confessou:
            - “Tem uma mocinha apaixonada por mim. Ela é linda e de família rica., Eu sou feio e pobre. Certamente ela está apaixonada apenas pelo artista.  Esse namoro  não pode dar certo”
            E acabou o namoro. Conheci a moça, realmente muito bonita e de
família abastada. Mas, Aguinaldo era assim. Extremamente sincero.  Não tolerava ser ingrato com ninguém.   Na época em que a Empresa Jornal do Commercio atravessava dificuldades financeiras, Aguinaldo estava enfrentando também problemas semelhantes. Não dizia a ninguém, mas as pessoas mais próximas dele desconfiavam. Aguinaldo era sócio de Marcos Macena num estúdio de gravação. O que fazer para ajudar Aguinaldo de uma forma que ele não desconfiasse de nada ? 
              Macena inventou uma historia e deu certo:
            - “Aguinaldo, a loja Tiradentes quer um texto para vender rápido 20
geladeiras. Aqui estão os detalhes.  Faça o texto logo,  porque a loja já mandou o dinheiro da produção prá voce  Aqui está,” – e Macena  passou o  dinheiro da cota que fizemos prá ele. Aquinaldo  acreditou. Fez o texto, recebeu o dinheiro  e Macena gravou para dar a entender que era tudo verdade.  Só assim ajudamos Aguinaldo a   sair de um sufoco, sem que ele entendesse que era realmente uma ajuda.            
               Aguinaldo casou-se  com a nutricionista e professora, Conceição Lopes,  teve um  filho (Guiga) e morava na Madalena. Família feliz, que vivia na mais completa harmonia.
              No ano de 1977,  Aguinaldo e Macena comandaram o programa “Sabado Show”, transmitido do auditório da TV-Jornal aos sábados, à tarde   Eu fazia a produção e muitas vezes me perdia no comando do programa, porque os dois saiam do roteiro, inventavam mil presepadas e
conseguiam  fazer o publico rir o tempo todo. Era, por assim dizer, um programa  de variedades ancorado por dois excelentes comediantes.               
Doente dos rins, Aguinaldo chegou a  se submeter a sessões de  hemodiálise três vezes por semana. Uma  batalha contra a morte.  Numa das sessões o coração não resistiu.  No velório do Hospital Português, fui vê-lo pela ultima vez. Ao invés de rir de suas presepadas, chorei copiosamente. Que Deus o tenha.

Novela da Minha Vida: Show Homem com H

      
 Tive o privilegio de administrar,  juntamente com Jota Ferreira e Jorge José,  um show para o mega-empresário Manoel Poladian.  Ficamos  responsáveis  pela mídia, contatos com as autoridades, logística de transporte,  hospedagem no Hotel Quatro Rodas, em Olinda, trabalho que nos rendeu um percentual  da renda liquida do espetáculo.
         Para quem não conhece, Manoel Poladian está há mais de 50 anos no batente.   É difícil citar um grande artista nacional ou internacional que não tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio Iglesias, Ray Charles, Tina Turner, Liza Minelli, Sting, são algumas celebridades da musica que tiveram shows administrados por  Poladian.   Na relação dos brasileiros estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina, Gal  Costa,  Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Maria Bethania, entre  outros.    Como empresário de faro aguçado e muita experiência,  Poladian costuma também contratar  um artista antes de ser sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores espaços da mídia e quando o mesmo atinge o estrelato começa, então, a ganhar dinheiro, muito dinheiro, com ele.
          Foi assim com Ney Matogrosso, recém-saído do grupo  “Secos & Molhados”  para fazer carreira  solo.  Durante os dois primeiros anos Poladian consolidou a imagem de Ney como um novo fenômeno, pela irreverencia e erotismo de sua coreografia em cena, cantando musicas que ganharam rapidamente o gosto popular.  Depois de se exibir no Anhembi, em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho,  no Rio de Janeiro,  Ney trouxe  suas plumas e paetês e seus trejeitos para o palco do Geraldão com a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que seria “o maior show do ano”, o que realmente aconteceu.    O espetáculo foi realizado no dia 15 de outubro de 1981 e agitou o Recife.  Os ingressos foram disputados a peso de ouro uma semana antes do evento. Ocorreram  problemas sérios com a Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos,  que queriam  embargar o show.  Os empresários -  Poladian, Jota Ferreira e eu  – fomos todos parar na policia para prestar esclarecimentos
relacionados aos contratos com o artista e os músicos do show. A imprensa, principalmente o jornal vespertino “Diário da Noite”  divulgou com certo
sensacionalismo,  os acontecimentos, tanto as informações positivas sobre
a expectativa do publico para o show como, e principalmente, para esses
lances que envolviam um pretenso descumprimento das obrigações contratuais por parte dos empresários.  
        
           Superados esses problemas, surgiram outros bem mais graves. O Geraldão pegou o maior publico de toda a  sua historia. Para mais de 20 mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos 5 mil ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos, quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia. Até o Batalhão de Cavalaria foi chamado  para conter  a multidão. Lembro que  logo cedo uma mulher, que havia sofrido um mal súbito, foi içada por cabos de aço da arquibancada para uma viatura do resgate do Corpo de
Bombeiros estacionada  ao lado.  Foi nessa hora que a policia pediu para
fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais ninguém. O povo queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados.
        Nessa hora um medo tomou conta de mim. Saí de perto do tumulto   e fui tomar uma cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à distancia com muito receio de que o pior poderia acontecer.
       .  No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou como manchete principal: “Tapas, Roubos e Feridos no Show  do Homem com H”.   E foi o que realmente aconteceu. O que não se previu, certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos falsificados e causaram  toda essa superlotação
          O que importa é que aprendemos muito e ganhamos uma excelente  compensação financeira..
          Dois meses depois, o mesmo Poladian quis bancar com a gente o show  “Festa do Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na voz de  Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia se repetir o mesmo sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada, mas  houve um erro de logística. O show daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes, para um publico mais refinado.  O ginásio não era local para Gal.  Na ânsia de voltar a ganhar muito, perdemos tudo,  pelo menos  o trabalhão que tivemos.
            Fica aqui, para encerrar, a opinião de um empresário que conheço:
            - “Bancar show é um perde-ganha pior que jogar no bicho....”

         
             (Alguns recortes dos jornais noticiando as
broncas verificadas durante o evento. Claro que as paginas de elogios
ao espetáculo não estão aqui publicadas porque foram muitas e em todos

os jornais da época).



Novela da Minha Vida: Meu Encontro com Lula


   Ao assumir a direção da Massangana Multimídia,  a produtora  de vídeo da Fundação Joaquim Nabuco,  o  meu  amigo  Jorge José Santana me convidou  para participar de alguns projetos da instituição. Um desses projetos  tinha o patrocínio da SUDENE e se destinava a ressaltar a importância dos incentivos fiscais oferecidos pela autarquia de desenvolvimento do Nordeste. Os vídeos me levaram a conhecer destacadas empresas localizadas na região, entre as quais uma industria de plástico no Distrito Industrial de João Pessoa, uma empresa de confecções em Natal-RN, a Raymundo da Fonte em Paulista-PE, entre
outras.  
      Mas, o projeto que mais me emocionou foi o denominado “Nomes que fazem a diferença”, no qual eram ressaltadas personalidades publicas que se destacaram em vários segmentos da nossa sociedade. Tive o privilegio de produzir os vídeos sobre o empresário Armando Monteiro Filho, o ex-governador Cid Feijó Sampaio e  o ex-prefeito do Recife, José do Rego Maciel.  O trabalho consistia em realizar pesquisas sobre cada um dos entrevistados,  obter depoimentos de pessoas do seu rol de amigos, companheiros de trabalho e familiares,   elaborar um roteiro para as entrevistas comandadas pela experiente apresentadora Carmen Peixoto e, finalmente,   ilustrar a edição, com imagens recentes e/ou colhidas dos álbuns de família dos entrevistados.
         Durante toda essa minha experiência profissional fui repreendido publicamente duas vezes. A primeira quando tentei captar imagens do dr. José do Rego Maciel e família assistindo missa na Capela de Jesus Menino de Praga, existente na Avenida  Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem. Cheguei cedo com a equipe, instalamos a câmera, iluminação e som para a captação da missa e da presença de familiares.  Na época, o filho do homenageado  era o Vice-Presidente da Republica, Marco Antonio Maciel.  Poucos minutos antes da missa duas viaturas da Policia Federal chegaram à Igrejinha, fazendo o cortejo de segurança do carro que conduzia o vice-presidente. E logo que ele entrou no recinto e viu o nosso “circo” armado mandou um dos seguranças solicitar delicadamente a nossa retirada do local, porque não queria que  aquele momento íntimo da família fosse registrado por câmeras, luzes e tudo mais. Fiz o que foi solicitado, mas o câmera foi orientado por mim para buscar, mesmo de longe e sem a iluminação adequada,  algumas imagens  do dr. José do Rego Maciel ajoelhado, rezando, ao lado do filho. Essas mesmas imagens foram colocadas no vídeo e causaram a emoção tão esperada por todos nós.

          A segunda repreensão foi do empresário Armando Monteiro Filho. Na lista que tinha sobre os seus grandes amigos estava o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, então pré-candidato a Presidente da Republica. Demonstrei a Jorge José a minha disposição de ir à Brasília ou à São Paulo, onde ele estivesse, para obter o depoimento de Lula para o documentário.
Mas, o projeto não dispunha de verba suficiente para essa despesa. Pesquisei por onde andava Lula e, coincidentemente, ele estava agendado para receber uma homenagem em Petrolina e que, depois, viria para o Recife.  No dia da homenagem, segui com a equipe para o Aeroporto dos Guararapes. Em nenhum balcão das empresas aéreas havia o registro do passageiro Luiz Inácio Lula da Silva. Fui bater com os costados na Infraero e lá me orientaram para procurar os hangares das empresas que se utilizam de aviões particulares. Dito e feito. No hangar da Empreiteira Queiroz Galvão confirmei a chegada de uma aeronave vinda de Petrolina com o precioso passageiro. Montei meu esquema para  gravar o desembarque de Lula e logo em seguida o depoimento que ele certamente daria se referindo ao dr. Armando, mas eu não contava que o homenageado estaria também  na recepção.  Quando o dr. Armando me viu, foi categórico:
           - “Por favor,  não fica bem essa ostentação para o nosso encontro que não é publico. É encontro muito reservado...”
            - “Dr. Armando, vamos ficar escondidos. Lula não vai notar que estamos aqui. Só depois que o senhor se retirar é que vou conversar com ele e explicar a nossa intenção.” – foi o que eu disse.
             Lula recebeu um forte abraço do dr. Armando ao descer do avião.
Conversaram por um período e, em seguida,  dr. Armando foi embora.
Fui ao encontro de Lula, expliquei o que estava buscando e  ele, de imediato,  se propôs a dar o depoimento.  Enquanto urinava no banheiro da sala vip ele perguntava detalhes do trabalho que eu estava realizando. Ainda no banheiro, trocou de camisa, penteou os cabelos e disse:   - “Estou pronto para falar.”
                A  câmera foi ligada  e ele começou:               
  -  “A minha relação de amizade com dr. Armando Monteiro é uma relação, eu diria, até um pouco recente,.  Primeiro, eu conhecia dr. Armando de leituras sobre o Governo João Goulart; depois eu me inteirei umn pouco mais sobre dr. Armando nas conversas com Brizola; depois euconheci um pouco mais dr. Armando nas eleições de 1994, quando ele era candidato a Senador , e aí eu acho que reside a interação das pessoas.
Como é que nasceu essa nossa amizade  ? Eu estava em Petrolina, nós íamos fazer um comício, eu era candidato a Presidente pelo PT, o Armando Monteiro era candidato ao Senado na chapa de Arraes, mas apoiava o Brizola enquanto candidato a Presidente da Republica, e quando dr. Armando foi falar , o publico de Petrolina, uma parte do publico, deu uma vaia no dr. Armando. E vaiaram Dr. Armando porque ele falou o nome do Brizola, ou seja, eu era o presidenciável que estava no palanque e ele defendeu o nome do Brizola, e por isso deram uma vaia no Dr. Armando.
Eu fiquei pensando que o Dr. Armando estava certo, ele tinha mais era que defender o Brizola, afinal de contas ele era o candidato do partido do Brizola,  e Brizola era candidato como eu e não era pelo fato de eu estar naquele palanque que Dr. Armando teria que mudar e me apoiar, porque aí , com seria virar a casaca da forma mais esdrúxula  possível.  Foi pensando assim que eu construí  no meu imaginário um respeito muito grande ao Armando Monteiro (.....)  Eu tenho um profundo respeito pelo Armando, pelo  seu passado político, mas sobretudo pelo seu caráter e pelo seu comportamento  ético (....)   e prá mim  a ética  é  muito importante neste Pais onde os governantes são ladrões, onde os políticos são corruptos, onde delegado rouba, policial rouba, governante rouba, juiz rouba. Quando a gente encontra um homem honesto, a gente tem que estender a mão  e falar: - “é com esse que eu vou”.
          O video documentário sobre Dr. Armando Monteiro Filho foi lançado no Cine-Teatro da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, no dia 6 de dezembro de 2000 e foi noticia em todos os jornais. Na ultima pagina deste capitulo, reproduzo uma matéria que foi publicada na “Folha de Pernambuco”, com fotos sobre o evento.
          E sobre Dr. Cid Feijó Sampaio resta a grata satisfação de ter  me aproximado  de um homem que eu já admirava como governante, que lutou pelo desenvolvimento industrial de Pernambuco.  Dr. Cid era um politico obstinado, impetuoso, inovador,  um autentico líder empresarial e um gestor  de extraordinária competência no zelo pela causa publica.