Polemico, irreverente, ousado,
destemido, “Verdade ou Mentira” foi um programa que se notabilizou na TV
nordestina no ano de 1980. Ninguém até
hoje conseguiu fazer algo igual, envolvendo pessoas conhecidas da sociedade. Foi noticia nos grandes jornais e nas
revistas nacionais de maior circulação, como a “Veja” e “Isto É”. Toda semana repercutia nas paginas dos
jornais com comentários favoráveis e contraditórios em torno dos personagens que enfrentavam
inquisidores corajosos, que não mediam esforços em fazer colocações para saber
o que era verdade e o que era mentira em relação aos fatos mais contestadores da vida dos
entrevistados.
O programa considerado de mais “baixo
nível” foi com o babalorixá Pai Edu. Um telespectador chegou a escrever na
secção ”Cartas`a Redação”, do Jornal do
Commercio: -“O babalorixá Pai Edu, entrevistado num programa de
televisão, tendo à sua frente pessoas
ilustres como jornalista, advogado, pastor evangélico, sociólogo e
parapsicólogo, ofendeu, de maneira gritante, não apenas a dignidade da
sociedade, mas o nome do próprio Deus e
de seu filho Jesus Cristo. O “infame” babalorixá zombou daqueles homens
ilustres que o entrevistaram, num cinismo e falta de pudor que fizeram tremer os céus e a Terra.”
Outro debate que deu repercussão no Brasil
inteiro foi com a deputada Aracy Nejaim,
ex-esposa do então prefeito de Caruaru, Drayton Nejaim. Na Revista “Veja” o
caso foi relatado assim:
“PREFEITO CASSA ENTREVISTA DA
EX-MULHER NA TV. –
O
Prefeito de Caruaru mandou desligar a estação repetidora de televisão da
cidade para evitar que o eleitorado local assistisse
a uma entrevista da sua ex-mulher Aracy
Alves de Souza, no programa “Verdade ou
Mentira”, da TV-Jornal do Comercio do Recife.
No programa Aracy contou a historia de sua convivência com Nejaim. Depois de chamá-lo de “safado”, Aracy acusou
o prefeito de “caloteiro”, por ele haver se recusado a pagar pensões
alimentícias.” - A matéria ocupou
uma pagina inteira da Revista.
Na
“Isto é” a manchete foi esta: “PREFEITO CENSURA SUA EX-MULHER” - a Revista
também dedicou uma pagina ao fato, ilustrada com fotografias do casal.
Eu fazia a produção do programa, com supervisão de
Jorge José e apresentação de José Maria Marques. Ia ao ar aos domingos, por
volta das
11
da noite. Havia sempre pessoas que se
recusavam a partiripar do programa pelo impacto que ele causava na
sociedade. Lembro que tentei levar para a cadeira do “Verdade ou Mentira” o polemico atacante Dario Maravilha, que
jogava pelo Sport. Ele foi incisivo: -
“Meu caro, esse programa está dando muito Ibope. Só vou por tanto. ...” e revelou quanto queria em dinheiro para participar. O programa não
tinha verba para isso e Dario
não foi “saco de pancadas” no programa.
Outras participações surpreendentes,
foram a jornalista Fátima Bahia, o
delegado de policia João Acioly, o vereador Brás Batista, o diretor do DETRAN Walter Benjamin, o “rei
do melaço” Gileno de Carli, o professor Abdias do Nascimento, que chegou a
revelar que o Brasil era o país mais racista do mundo e terminou abandonando o
programa diante das duras perguntas dos entrevistadores, entre eles o
antropólogo Roberto Mota.
Até hoje, não houve um programa de
Televisão em Pernambuco que conseguisse superar a popularidade do “Verdade ou
Mentira”. A TV-Cultura, de São Paulo,
mantem o “Roda Viva”, mas não chega aos pés da ousada, corajosa e polemica
atração da TV-Jornal. De saudosa
memória...
Pagina
da Revista “Isto é”