Aguinaldo Batista de Assis,
pernambucano de Palmares, era um moço
modesto, sempre bem humorado, corpo
franzino, um tanto ou quanto feio de aparência, mas uma alma boa, compreensiva,
um homem de caráter como poucos, apesar de ter sido um humorista. Nasceu com o gênio do humor nas veias e
com o desejo de só fazer o bem.
Conheci Aguinaldo Batista através do
comunicador Walter Lins, na Rádio Clube.
Havia feito uma entrevista com Walter para a “Revista do Radio”, editada no Rio de Janeiro e distribuída para todo o Brasil. Eu era representante-corrrespondente e mantinha uma coluna semanal com as
noticias do radio
pernambucano. Era uma época próxima do Carnaval. Walter Lins comandava o “Carrocel”,
que era apresentado no pequeno auditório da Radio Clube. Dei a idéia de produzir uma revistinha
carnavalesca para o programa. Ele gostou
da sugestão e disse que ia me apresentar a Aguinaldo, ídolo do grande publico, com seus quadros humorísticos. Grande parte
de sua imensa popularidade se devia ao
tipo “Azarildo”, que ele
interpretava no programa “Atrações do
Meio-Dia”.
No dia da apresentação, pensei
comigo:
- “Esse cara vai me levar na
gozação”.
Aconteceu o que eu jamais esperava.
Aguinaldo apoiou a minha idéia, ajudou-me
a passar tudo para o papel e realizamos juntos a revistinha, que teve a participação de atores, cantores,
músicos e dançarinos e causou tanto sucesso que foi repetida na semana
seguinte.
Daí em
diante, não nos largamos mais.
Ficamos amigos inseparáveis.
Para onde um ia o outro ia também.
Amigão nosso também era oJosé
Augusto Branco, que ainda atua na Rede
Globo morando no Rio de Janeiro. Sempre magrinho, mas com um coração do
tamanho de um elefante, Aguinaldo era admirado por todos, colegas,
ouvintes, telespectadores, todos
enfim. Certa feita, ele me confessou:
- “Tem uma mocinha apaixonada por
mim. Ela é linda e de família rica., Eu sou feio e pobre. Certamente ela está
apaixonada apenas pelo artista. Esse
namoro não pode dar certo”
E acabou o namoro. Conheci a moça,
realmente muito bonita e de
família abastada. Mas,
Aguinaldo era assim. Extremamente sincero.
Não tolerava ser ingrato com ninguém.
Na época em que a Empresa Jornal
do Commercio atravessava
dificuldades financeiras, Aguinaldo estava enfrentando também problemas
semelhantes. Não dizia a ninguém, mas as pessoas mais próximas dele
desconfiavam. Aguinaldo era sócio de Marcos Macena num estúdio de gravação. O
que fazer para ajudar Aguinaldo de uma forma que ele não desconfiasse de nada
?
Macena inventou uma historia e
deu certo:
- “Aguinaldo, a loja Tiradentes
quer um texto para vender rápido 20
geladeiras. Aqui estão os
detalhes. Faça o texto logo, porque a loja já mandou o dinheiro da
produção prá voce Aqui está,” – e
Macena passou o dinheiro da cota que fizemos prá ele.
Aquinaldo acreditou. Fez o texto, recebeu o dinheiro e Macena gravou para dar a entender que era
tudo verdade. Só assim ajudamos
Aguinaldo a sair de um sufoco, sem que
ele entendesse que era realmente uma ajuda.
Aguinaldo casou-se com a nutricionista e professora, Conceição
Lopes, teve um filho (Guiga) e morava na Madalena. Família
feliz, que vivia na mais completa harmonia.
No ano de 1977, Aguinaldo e Macena comandaram o programa “Sabado Show”, transmitido do
auditório da TV-Jornal aos sábados, à tarde Eu fazia a produção e muitas vezes me perdia
no comando do programa, porque os dois saiam do roteiro, inventavam mil
presepadas e
conseguiam fazer o publico rir o tempo todo. Era, por
assim dizer, um programa de variedades ancorado por dois excelentes
comediantes.
Doente dos rins, Aguinaldo
chegou a se submeter a sessões de hemodiálise três vezes por semana. Uma batalha contra a morte. Numa das sessões o coração não resistiu. No velório do Hospital Português, fui vê-lo
pela ultima vez. Ao invés de rir de suas presepadas, chorei copiosamente. Que
Deus o tenha.