Como produtor-executivo do “Programa
Jota Ferreira”, transmitido ao vivo do
estúdio-auditorio da TV-Jornal, enfrentei varias situações inusitadas. Programa de grande audiência nas tardes dos
sábados, sempre com o auditório lotado, a atração tinha o
formato de variedades, com quadros de calouros,
participação de artistas de passagem pelo Recife e outras atrações, que preenchiam três horas de duração. Era um programa completo dentro de suas
limitações, com quadro próprio de
bailarinas, grupo musical com 7 musicos
e tudo que um programa de
variedades exigia. Pelas pesquisas, em
muitos sábados o programa superava a audiência do inesquecível Chacrinha, que mantinha um programa semelhante na Rede Globo.
Eu ficava comandando os passos de Jota
Ferreira posicionado diante dele no espaço entre o palco e a platéia.
Usava um interfone para me comunicar com
a suíte e o operador do som. Tinha dois bons auxiliares: Zuca Show e Wilson
Silva, este ultimo coordenava os ensaios
dos calouros do programa, no meio da semana.
Os artistas do sul do País,
que viam ao Recife,
invariavelmente, participavam do
programa para divulgação de seus shows e de seus discos.
A produção se encarregava também de buscar
atrações e uma delas fui encontrar em
um circo de categoria internacional que fazia temporada na cidade. Após assistir ao espetáculo a direção do circo pediu que eu escolhesse um
dos números para apresentar no programa, em troca da promoção da temporada. Optei pelo elefante que fazia malabarismos.
Sabia que não haveria qualquer problema
de espaço físico para que o animal adentrasse ao palco, porque as
instalações da TV Jornal permitiam grandes montagens.
O elefante chegou com o seu domador na hora marcada. Na ampla área da cenografia do Canal
2, onde são montados e guardados os cenários dos programas, fizemos um pequeno
ensaio. Jota subiria no elefante e daria uma volta pelo palco. Quando Jota anunciou o elefante do circo e
este entrou em cena o au ditório veio
abaixo. E quando Jota foi pego pela tromba e jogado no dorso do animal houve
até desmaios de algumas ”fanzocas”
diante da coragem do apresentador do programa.
Eufórico e emocionado, Jota
procurou no final do programa o fotografo
“Lambe-Lambe”, como era conhecido,
que costumeiramente fotografava tudo o que acontecia no programa para depois vender copias das fotos entre os
artistas, convidados e as pessoas do auditório. Jota disse para o fotógrafo:
-
“Quero copias de todas as fotos em que apareço com o elefante.”
Aí, veio a resposta de
“Lambe-Lambe”, que Jota não queria ouvir:
- “Seu Jota, a máquina estava
sem filme. Eu esqueci de carregar.
Nessa época, não havia ainda a
fotografia digital e Jotinha deixou de guardar para sempre o inesquecível momento em que passeou no
dorso do gigantesco animal...
Uma realização que marcou a
historia do programa foi o “Campeonato das Feirinhas”,
reunindo representações das feirinhas típicas que funcionavam nos bairros do Recife criadas
pela Prefeitura, na administração do Prefeito Gustavo Krause. Os bairros se agitavam e
havia uma concorrência muito
saudável entre os feirantes.
A audiência do programa era
tão consagradora, que permitiu que fosse realizado um grande show comemorativo do primeiro aniversário no
no Geraldão, em 1981, com casa lotada e
a presença de consagrados nomes do
cenário artístico nacional.
Outro fato
inusitado aconteceu já nos últimos instantes de um programa. Eu estava passando o nome do próximo cantor,
através de uma “dália” (uma cartolina com o
nome que eu mostrava para Jota anunciar – não existia ainda o ponto
eletrônico), quando observei uma agitação entre as bailarinas. As
tapadeiras que compunham o cenário também balançavam. Não
havia dúvida de que estava acontecendo algo fora do comum nos bastidores.
Imediatamente, troquei a “dália” com o nome do cantor e apresentei outra, na qual estava escrito
“Chama intervalo”.
Quando os comerciais começaram a ser
exibidos corri para saber o que estava acontecendo. Era
Zuca com um revolver na mão, correndo atrás de um calouro que havia se insinuado para pegar na
coxa de uma das bailarinas. O corre-corre
pelos estreitos corredores dos
bastidores apavorou todo mundo. Gritei
para Zuca e ele me atendeu:
-“O cabra safado merecia um tiro na
testa.”
Acalmei Zuca, ele esfriou a cabeça e seguimos para concluir
aquele programa que poderia ter dado
oportunidade de Jota noticiar mais um crime como repórter
policial em pleno auditório do Canal 2.
Ainda bem que tudo terminou em paz.
Momento de homenagem no Programa Jota
Ferreira. Na foto, Zuca, a bailarina Dalva e o comandante do programa.
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