Para quem não conhece, Manoel Poladian
está há mais de 50 anos no batente. É difícil citar um grande artista nacional
ou internacional que não tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio
Iglesias, Ray Charles, Tina Turner, Liza Minelli, Sting,
são algumas celebridades da musica que tiveram shows administrados por Poladian.
Na relação dos brasileiros estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina,
Gal Costa, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Maria
Bethania, entre outros. Como empresário de faro aguçado e muita
experiência, Poladian costuma também
contratar um artista antes de ser
sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores espaços da mídia e quando
o mesmo atinge o estrelato começa, então, a ganhar dinheiro, muito dinheiro,
com ele.
Foi assim com Ney Matogrosso,
recém-saído do grupo “Secos & Molhados” para fazer carreira solo.
Durante os dois primeiros anos Poladian consolidou a imagem de Ney como
um novo fenômeno, pela irreverencia e erotismo de
sua coreografia em cena, cantando musicas que ganharam rapidamente o gosto
popular. Depois de se exibir no Anhembi, em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho, no Rio de
Janeiro, Ney trouxe suas plumas e paetês e seus trejeitos para o
palco do Geraldão com a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que
seria “o maior show do ano”, o que realmente aconteceu. O espetáculo foi realizado no dia 15 de
outubro de 1981 e agitou o Recife. Os
ingressos foram disputados a peso de ouro uma semana antes do evento.
Ocorreram problemas sérios com a Ordem
dos Músicos e o Sindicato dos Músicos,
que queriam embargar o show. Os empresários - Poladian, Jota Ferreira e eu – fomos todos parar na policia para prestar
esclarecimentos
relacionados aos contratos
com o artista e os músicos do show. A imprensa, principalmente o jornal
vespertino “Diário da Noite” divulgou com certo
sensacionalismo, os acontecimentos, tanto as informações
positivas sobre
a expectativa do publico para
o show como, e principalmente, para esses
lances que envolviam um
pretenso descumprimento das obrigações contratuais por parte dos
empresários.
Superados esses problemas, surgiram outros bem
mais graves. O Geraldão pegou o
maior publico de toda a sua historia.
Para mais de 20 mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos
5 mil ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos,
quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia. Até o
Batalhão de Cavalaria foi chamado para
conter a multidão. Lembro que logo cedo uma mulher, que havia sofrido um
mal súbito, foi içada por cabos de aço da arquibancada
para uma viatura do resgate do Corpo de
Bombeiros
estacionada ao lado. Foi nessa hora que a policia pediu para
fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais
ninguém. O povo queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados.
Nessa hora um medo tomou conta de mim.
Saí de perto do tumulto e fui tomar uma
cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à distancia com muito
receio de que o pior poderia acontecer.
.
No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou como manchete principal: “Tapas, Roubos e
Feridos no Show do Homem com H”. E foi o que realmente aconteceu. O que não
se previu, certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos
falsificados e causaram toda essa superlotação
O que importa é que aprendemos muito
e ganhamos uma excelente compensação
financeira..
Dois meses depois, o mesmo Poladian
quis bancar com a gente o show “Festa do
Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na voz de Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia
se repetir o mesmo sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada,
mas houve um erro de logística. O show
daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes, para um publico mais
refinado. O ginásio não era local para
Gal. Na ânsia de voltar a ganhar muito,
perdemos tudo, pelo menos o trabalhão que tivemos.
Fica aqui, para encerrar, a opinião
de um empresário que conheço:
- “Bancar show é um perde-ganha
pior que jogar no bicho....”
(Alguns
recortes dos jornais noticiando as
broncas verificadas durante o evento.
Claro que as paginas de elogios
ao espetáculo não estão aqui publicadas
porque foram muitas e em todos
os jornais da época).