Novela da Minha Vida Profissional

Novela da Minha Vida: Show Homem com H

      
 Tive o privilegio de administrar,  juntamente com Jota Ferreira e Jorge José,  um show para o mega-empresário Manoel Poladian.  Ficamos  responsáveis  pela mídia, contatos com as autoridades, logística de transporte,  hospedagem no Hotel Quatro Rodas, em Olinda, trabalho que nos rendeu um percentual  da renda liquida do espetáculo.
         Para quem não conhece, Manoel Poladian está há mais de 50 anos no batente.   É difícil citar um grande artista nacional ou internacional que não tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio Iglesias, Ray Charles, Tina Turner, Liza Minelli, Sting, são algumas celebridades da musica que tiveram shows administrados por  Poladian.   Na relação dos brasileiros estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina, Gal  Costa,  Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Maria Bethania, entre  outros.    Como empresário de faro aguçado e muita experiência,  Poladian costuma também contratar  um artista antes de ser sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores espaços da mídia e quando o mesmo atinge o estrelato começa, então, a ganhar dinheiro, muito dinheiro, com ele.
          Foi assim com Ney Matogrosso, recém-saído do grupo  “Secos & Molhados”  para fazer carreira  solo.  Durante os dois primeiros anos Poladian consolidou a imagem de Ney como um novo fenômeno, pela irreverencia e erotismo de sua coreografia em cena, cantando musicas que ganharam rapidamente o gosto popular.  Depois de se exibir no Anhembi, em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho,  no Rio de Janeiro,  Ney trouxe  suas plumas e paetês e seus trejeitos para o palco do Geraldão com a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que seria “o maior show do ano”, o que realmente aconteceu.    O espetáculo foi realizado no dia 15 de outubro de 1981 e agitou o Recife.  Os ingressos foram disputados a peso de ouro uma semana antes do evento. Ocorreram  problemas sérios com a Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos,  que queriam  embargar o show.  Os empresários -  Poladian, Jota Ferreira e eu  – fomos todos parar na policia para prestar esclarecimentos
relacionados aos contratos com o artista e os músicos do show. A imprensa, principalmente o jornal vespertino “Diário da Noite”  divulgou com certo
sensacionalismo,  os acontecimentos, tanto as informações positivas sobre
a expectativa do publico para o show como, e principalmente, para esses
lances que envolviam um pretenso descumprimento das obrigações contratuais por parte dos empresários.  
        
           Superados esses problemas, surgiram outros bem mais graves. O Geraldão pegou o maior publico de toda a  sua historia. Para mais de 20 mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos 5 mil ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos, quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia. Até o Batalhão de Cavalaria foi chamado  para conter  a multidão. Lembro que  logo cedo uma mulher, que havia sofrido um mal súbito, foi içada por cabos de aço da arquibancada para uma viatura do resgate do Corpo de
Bombeiros estacionada  ao lado.  Foi nessa hora que a policia pediu para
fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais ninguém. O povo queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados.
        Nessa hora um medo tomou conta de mim. Saí de perto do tumulto   e fui tomar uma cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à distancia com muito receio de que o pior poderia acontecer.
       .  No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou como manchete principal: “Tapas, Roubos e Feridos no Show  do Homem com H”.   E foi o que realmente aconteceu. O que não se previu, certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos falsificados e causaram  toda essa superlotação
          O que importa é que aprendemos muito e ganhamos uma excelente  compensação financeira..
          Dois meses depois, o mesmo Poladian quis bancar com a gente o show  “Festa do Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na voz de  Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia se repetir o mesmo sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada, mas  houve um erro de logística. O show daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes, para um publico mais refinado.  O ginásio não era local para Gal.  Na ânsia de voltar a ganhar muito, perdemos tudo,  pelo menos  o trabalhão que tivemos.
            Fica aqui, para encerrar, a opinião de um empresário que conheço:
            - “Bancar show é um perde-ganha pior que jogar no bicho....”

         
             (Alguns recortes dos jornais noticiando as
broncas verificadas durante o evento. Claro que as paginas de elogios
ao espetáculo não estão aqui publicadas porque foram muitas e em todos

os jornais da época).