Novela da Minha Vida Profissional

Novela da Minha Vida Profissional


Capítulo de Apresentação

Escrever um livro ou uma  auto-biografia,  mesmo autorizada, nunca havia passado pela minha cabeça.  Até porque escrever sobre mim mesmo tem um ar de pieguismo ou de esnobismo ou de exibicionismo e outros ismos.... 

Mas,  com o advento dessa poderosa maquina que é a Informática  e sua tecnologia maravilhosa, me aconselharam a fazer um  livro digital.   Você lê uma vez e joga fora a mídia,  para não ocupar  espaço na sua estante.

Como um ser aposentado decidi,  então,  aproveitar a  maioria das minhas horas vagas para  escrever essas linhas,  que são, antes de tudo,  fragmentos interessantes, curiosos, e  até mesmo gozados da minha vida profissional,   que  se  não  foi  tão significativa o foi  de  grandes  e  imorredouras emoções.

Não levem em conta os nomes de amigos e colegas não citados na narrativa.  Afinal, numa tarefa como essa fica muito difícil a gente lembrar de tudo e de todos.

Posso garantir que  se trata de uma obra  que não  vai  interessar  aos  estudantes  de Comunicação,  mas,   que, certamente,  vai deixar “água na boca” nos  companheiros que, mesmo de longe,   vão relembrar alguns dos momentos por mim vividos e aqui narrados. 
     

Miguel Santos
Jornalista/Radialista  (com muito orgulho)

Novela da Minha Vida: Capitulos

01     - Rádio no sangue
02     - Bibi Ferreira e eu
03     -  Novo Rádio
04      - Jornais & Jornais
05      -  Linha virada
06      -  Ultima Hora
07       - As Revistas
08       - TVU: 27 anos no batente
09       - Carnaval pela TVU
10       - O Repórter
11       - Verdade ou Mentira ?
12       - Elefante e confusão
13       - Minha estréia no Cinema
14       - Meu Bairro é o Maior
15       - Guina: quanta saudade !
16       - Show do Homem com “H”
17       - Meu encontro com Lula
18       - Mister John
19       - Luiz Gonzaga – o Rei do Baião
20       - Roberto Carlos em três atos
21       - Claudia Barroso e Garin
22       - O mundo que conheci
23       -  Artista é quase isso...
24       - Sustos no ar
25       -  Atritos com Celebridades
26        - Dominguinhos e Calheiros
27       -  Colegas e Amigos
28        - Campanhas  Políticas
29    -  Eventos produzidos

30    -  Linha do Tempo

Novela da Minha Vida: Rádio no Sangue

       Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio Clube. Tinha um aditivo a  mais: meu tio-padrinho era outro que gostava e conhecia muita gente que atuava  em rádio. Lembro que ele costumava contratar um verdadeiro serviço de alto-falante que era instalado no amplo terreno em volta de sua casa nos aniversários do meu primo.  Eu comandava o show, fazia brincadeiras com os coleguinhas,  uns cantavam, outros aplaudiam e eu era  quem falava ao microfone. Por volta dos 12 anos de idade,  freqüentava o auditório do Radio Jornal, nos  domingos, à tarde,  para assistir ao programa comandado por  Ernane Seve e sua secretária de palco, Cacilda Lanuza, levado por uma moça amiga da família.   
        Fui crescendo e meu padrinho alimentava a idéia de que eu deveria ser um locutor de rádio.  Quando fiz meus 18 anos, ele conseguiu que eu fizesse   um estágio na recém inaugurada Radio Olinda, cuja sede ficava na ladeira de São Francisco, em Olinda,   mas que mantinha um estúdio
avançado de jornalismo num prédio  da Avenida Guararapes.  Foi nesse estúdio que recebi as primeiras orientações do jornalista Geraldo Seabra, que era o chefe do departamento de jornalismo da Emissora. Quando começava “A Voz do Brasil”, eu entrava no estúdio para gravar o jornal-falado, que tinha sido irradiado uma hora antes. Devo ter passado um  mês inteiro fazendo isso, até que eu próprio desisti do estágio, porque naquela época  (1957) não era qualquer um que botava a boca na “latinha”.  

          Mas, o “virus” do rádio já tinha tomado conta do meu sangue. Anos depois,  ingressei na Radio Capibaribe, cujos estúdios ficavam no prédio da  então ”Casa Barreira”, uma loja de  auto-peças na Rua Siqueira Campos e os transmissores instalados  na Rua Coronel Urbano de Sena, no bairro da Campina do Barreto, onde estão hoje os estúdios da Emissora.

                               Rádio Capibaribe  -   1961

            Comecei na Radio Capibaribe como produtor, mas exerci outras atividades,  como a de repórter e apresentador de programas. A Jovem Cap, como está sendo chamada hoje, foi a minha primeira escola radiofônica.  Dirigida pelo Sr. Arnaldo Moreira Pinto e seu filho adotivo, Humberto Pinto, com direção técnica do engenheiro alemão Otto Schiller, tive a  oportunidade de conviver com outros nomes que participaram dessa fase inaugural:  Genivaldo di Pace,  locutor noticiarista de grande talento; Edson Lima e  Miriam Silva, Reginaldo Silva,  Jocemar Ribeiro,  Samir Abou Hana.  Cezar Brasil e outros mais.  Um dos programas que criei foi “Musicas e Personalidades” (1960/61),  no qual gente famosa apontava as dez musicas inesquecíveis,  que  eram irradiadas juntamente com dados biográficos  da pessoa focalizada.   Além de escrever programas, estreei como repórter e comunicador, sempre com o sentido de adquirir experiência, mesmo porque na época a gente tinha que ser polivalente para trabalhar no rádio.

Cícero, dono do Restaurante Samburá, de Olinda, recepcionando a direção e funcionários da Radio Capibaribe. Da esquerda para a direita:
Humberto Pinto, Miguel Santos, Cícero, Gilberto Lins, Edson Lima e
Miriam Silva (Ano: 1962)

        A Radio Capibaribe foi a minha primeira grande escola. Daí prá frente,  o micróbio do radio não me largou mais. Quando assumi as colunas de  Rádio e Televisão do Jornal do Commercio e Diario da Noite, passei quase que imediatamente a atuar também no Rádio Jornal, como produtor de um programa chamado “Disco Brinde” (1966),  comandado por Nilson Lins.   Depois, não parei mais: fui produtor do programa de auditório “Festa de Brotos”,  comandado por Antenor Aroxa, , em 1968.   E por um longo tempo,  enquanto trabalhava na TVU em um expediente,  atuava no radio em outro. Como produtor de Samir  Abou Hana  percorri as Rádios Tamandaré,  Olinda, Globo e Clube. Por ultimo, fui produtor do saudoso Paulo Marques na Radio 103-FM e na Rede Estação Sat.  Rádio e Televisão sempre andaram paralelos durante  praticamente  toda a minha vida profissional.

  Jáder de Oliveira, apresentador do programa “Varietê”, ao me entregar premio de melhor produtor do ano de 1971,  no auditório  do Rádio Jornal. Nessa época, alguns  veículos de comunicação e entidades faziam pesquisas para apurar quem eram os melhores do Radio e da TV.  

AUDITÓRIO DO RADIO JORNAL DO COMMERCIO – PALCO E PLATEIA




Novela da Minha Vida: Bibi Ferreira & Eu

Um dos maiores nomes do teatro brasileiro abriu o camarim que ocupava no Teatro de Santa Izabel e muito humildemente me cumprimentou:      
- ”Oi, Miguel. Muito obrigada por estar aqui conosco. Você vai nos dar uma grande ajuda ao nosso espetáculo.”
     Depois desse encontro,  pensei: será que eu sou tão  importante assim  para receber esse elogio da maior atriz do teatro brasileiro ?
     Juntei-me ao  grupo de figurantes  que havia sido convocado   para participar da peça “La Conchita”, uma opereta espanhola, com a qual Bibi Ferreira  encerraria a temporada  (de 01 a 13 de Setembro de 1956) no Recife para seguir de navio para uma turnê pela  Europa . Era uma noite de sexta-feira. Na parte da manhã  eu tinha ido visitar um amigo, José Francisco, e o irmão dele, Guilherme, me recebeu como se eu fosse o salvador do mundo. Foi logo dizendo:
      - “Você chegou na hora certa.  Esteja as seis da noite no Teatro de Santa Izabel para participar da peça da Bibi. Não falte. E não deu mais detalhes.”
       Jovem aventureiro, 18 anos de idade,  não fiz outra coisa.  Às seis da noite lá estava eu na  porta dos fundos do teatro. Guilherme me levou até o camarim dos figurantes e me meteram uma roupa meio extravagante e uma maquiagem da qual fazia parte até um bigode pintado de preto. Tudo isso ia acontecendo comigo sem que eu viesse a  saber,  com antecipação, o que eu teria  que fazer no palco. Lá pras tantas, cortina fechada, ouvi o murmúrio do publico e arrisquei uma olhada pela fresta da cortina. A platéia do suntuoso teatro estava lotada.  Afinal,  Bibi Ferreira era um nome  respeitado e consagrado no cenário teatral brasileiro. Na década de 50, ela montou um  repertorio com sua companhia e depois de bem sucedidas temporadas no eixo  Rio-São Paulo, saiu viajando pelo Brasil com elenco numeroso e uma produção de alto nível.  Dentre seus maiores sucessos estava o espetáculo do qual participei, ao lado do então marido de Bibi, o ator  Herval Rossano,  Wanda Marchetti e Francisco Dantas no elenco.
         Mas, como  já disse, tudo parecia um sonho. Eu havia experimentado uma sensação um pouco parecida quando tinha apenas 8 anos de idade.  Estudava no Ginásio  São Luiz, e fiz parte de um grupo teatral infantil que inaugurou o teatro-auditorio do colégio de Ponte D`uchoa.  Era um numero que lembrava as noitadas juninas. Enquanto  se  ouvia  a  marchinha  “Cai,  Cai Balão”,  eu  e  meus companheiros rodeavam uma fogueira cenográfica  E terminava o numero fazendo uma roda no palco. Foi quando usei a minha primeira calça comprida. Emocionado, cheguei a desfilar pelo corredor do  Auditório para mostrar que já era um homenzinho...
                   Com Bibi Ferreira foi um pouco diferente, porque a emoção foi maior, apesar de que, na primeira noite, eu realmente ia entrar em cena sem ter feito um simples ensaio e sem saber nada do que ia fazer. Eu era aquele figurante do empurrão,  como caldo-de-cana,  feito na hora.  No primeiro
ato, os figurantes entravam em fileira indiana pelos dois corredores da platéia  até alcançar o palco. Lá estava eu de mãos dadas a dois companheiros,  terminando por participar de uma dança de roda. Saímos do palco e retornamos no ato seguinte.  Aí , o cenário era  um típico cabaré,  com homens e mulheres fumando, bebendo,  se beijando e se abraçando, numa autêntica orgia. Lá estava eu sentado a uma mesa, fazendo que estava enchendo a cara (a bebida era guaraná).  Em dado momento,  uma  das figurantes  vinha me fazer caricias e sentava no meu colo.   Rolavam simultaneamente outras cenas semelhantes. A  figurante que estava sentada no meu colo sussurrou no meu ouvido:
      - “Agora, você vai me  empurrar.  Vou cair no chão e vou sair de cena. Você  fica e toma mais um copo com raiva de mim. Faz parte da cena. Vai, me empurra !”
       Eu dei um empurrão prá valer na moça e realmente ela se esparramou no chão e saiu blasfemando... Isso acontecia entre o grupo de figurantes – (Na minha mesa estavam Leda Alves, Cely,  Edmilson Catunda e eu). Talvez, Leda Alves nem se lembre mais disso. Afinal, ela se destacou no movimento cultural, chegando a ser Secretaria de Cultura  e uma das pessoas mais influentes do Estado.
        Tudo isso, minha gente, foi muito difícil para mim, porque tudo acontecia como uma grande surpresa. Nas demais noites,  ficou mais perfeito o meu desempenho artístico. Já havia aprendido tudo na difícil noite da estréia. 
         Lembro que acabada a nossa participação, alguns figurantes, como eu, corríam  para o camarim, para retirar a maquilagem, mudar de roupa e, então,   seguíamos para a porta principal do teatro para que o publico nos vissem mais de perto.. Vaidade de artista.   Afinal, éramos coadjuvantes de Bibi Ferreira - a maior estrela do teatro brasileiro. Lembro que numa das noites, quando eu estava todo empolgado vendo o publico me reconhecer,  uma mocinha apontou prá mim e disse:
     - ”Foi esse cara que empurrou aquela moça no chão... Você não tem vergonha na cara, não ?”
       Desapareceria de cena ali um grande ator frustrado.  Vilão e canastrão, que nunca mais quis saber de subir num palco de teatro.


FOTO HISTÓRICA

FOTO HISTORICA DA MINHA ESTREIA NO TEATRO
DE SANTA IZABEL COM BIBI FERREIA (1956).  NA MESA, LEDA
ALVES, EU, CELY E EDMILSON CATUNDA.  NA ÉPOCA, ESTAVA
COM 18 ANOS DE IDADE.

Novela da Minha Vida: Novo Rádio

 A Televisão havia chegado com gosto de gás. Será que vai acabar com o rádio ?  Era a preocupação de muitos radialistas. Até porque muita gente boa migrou imediatamente para o novo veiculo. O interesse pelas novelas radiofônicas foi diminuindo, os cantores davam preferência à TV e  o rádio sentiu a necessidade  de um  impulso para sobreviver (alguns pensavam assim).
        Cinco anos depois do advento da TV, o Radio Jornal do Commercio jogava ao ar uma programação inovadora apelidada de “novo rádio”.  A estreia foi numa segunda-feira, 26 de abril de 1965.
          Eu trabalhava como editor de rádio e televisão nos dois jornais da Empresa – o Jornal do Commercio e e  Diário da Noite – e acompanhei de perto todas as providencias para o lançamento da nova programação. O gerente geral do Radio Jornal  era o Sr. Luiz Felipe Vieira e o gerente de programação, Abérides  Nicéas. O Sr. Vieira disse, numa entrevista:
          “A nova programação é o começo de uma série de iniciativas visando a satisfação do nosso publico ouvinte. O radio, como fator de progresso de um Estado ou de um País, tem de se aperfeiçoar e se adaptar aos novos tempos.”
             Uma caravana de consagrados artistas nacionais, entre os quais Erasmo Carlos,  Sergio Murilo,  Wanderléa e Rosemary, veio abrilhantar o lançamento da nova programação, realizando apresentações nos programas  ”Praça da Alegria”, comandado por Walter Spencer,  no sábado, à tarde,  e “Varietê”, sob o comando de Jáder de Oliveira, no domingo, á noite.
         A  equipe de produtores do “novo rádio”  era formada por  Aldemar Paiva, Nelson Pinto, Thalma de Oliveira, Alberto Lopes,  Ivan Soares, Medeiros Cavalcanti, Wladimir Calheiros, Geraldo Silva, e Manoel Barbosa.    
         Integrei essa valorosa equipe  como coordenador do  “Disco Brinde”, apresentado de segunda a sexta-feira, as duas da tarde,  sob  o comando de Nilson Lins. O programa realizava testes de conhecimentos musicais entre os ouvintes e distribuía discos entre os premiados, numa parceria com a Fábrica de Discos Rozenblit.
               Outros programas se notabilizaram nessa fase do Radio Jornal, Como o  “Cidade Nua”, apresentado ao meio-dia com produção de Manoel Barbosa e participação do elenco de rádio-teatro, interpretando casos registrados nas delegacias policiais; Nelson Pinto produzia “No Tempo da
Retreta”;  Medeiros Cavalcanti fazia o “Almanaque do Almoço”, aos domingos;  Thalma de Oliveira escrevia “Retalhos do Cotidiano” e era da consagrada Janete Clair a novela “O Renegado”, exibida as 9 da noite, enquanto os programas esportivos  tinham  mais ou menos o mesmo espaço que ocupam   no rádio de hoje. O discotecário na época era o Eraldo Mendonça.  Lembro que ele foi enviado ao sul do  país, para adquirir os mais recentes lançamentos fonográficos e todos os demais discos necessários para atualizar a discoteca, além de uma nova estrutura para facilitar o atendimento imediato das solicitações dos ouvintes. O departamento de radio-jornalismo era comandado pelo competente jornalista Artur Malheiros e o espaço físico foi ampliado para receber mais maquinas de escrever e redatores. 
                Ano seguinte – 1966 – Antenor Aroxa foi contratado para conduzir o programa “Festa de Brotos”, aos sábados, à tarde, substituindo Walter Spencer.   Passei, então,  à exercer a atividade de produtor  de programas de auditório, experiência que me levou a fazer a mesma coisa na

Televisão.
O superintendente da Empresa Jornal do Commercio, dr. Paulo Pessoa de Queiroz, ao meu lado.  Momento em que a  TV e o  Rádio Jornal eram
homenageadas na cidade de Vitoria de Santo Antão (1968)

Novela da Minha Vida: Jornais & Jornais

Sempre gostei de escrever. Quando estudava no Ginásio São Luiz criei um jornalzinho manuscrito, que passava de mão em mão,  divulgando eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo os coleguinhas do segundo período do curso colegial.
         Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional de Seguros de Vida, em 1958, editei o jornal  ”O Timoneiro”,  este  já produzido em uma gráfica.  Circulava internamente, com  exemplares distribuídos entre funcionários, corretores e médicos da empresa.
           Ainda em 1958 comecei a colaborar com a “Folha do Povo”, um jornal criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação ocupava duas salas  no Edifício Vieira da Cunha, na Rua Floriano Peixoto e aí pude desenvolver todos os meus desejos de ser um jornalista completo.
Comecei escrevendo uma coluna sobre o Rádio (ainda não existia a Televisão) e, em  seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma das quais denunciava a retirada de corpos ainda em estado de decomposição no Cemitério de Casa Amarela. 

A reportagem gerou notas de esclarecimento por parte da  Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os jornais da cidade. Como o jornal apoiava o Governo pensei que fosse afastado, mas recebi parabéns não só porque o jornal faturou a nota oficial como porque a matéria era verdadeira e ganhou repercussão.
          Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser revisor (um episodio dessa época faz parte de outro artigo deste trabalho).   Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda  hoje é na Rua do Imperador.
Já existia a Televisão e passei a editar uma coluna sobre as  atividades desenvolvidas no radio e na TV.  Mas, como simples colaborador.
Experimentei vários pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos. Afinal, comecei mesmo num jornal comunista e queria esconder o meu nome verdadeiro. Fui até Francis, um colunista de discos fonográficos.
             Foi a partir de 1963 que efetivamente passei a ser  jornalista profissional  atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste trabalho.
              Em 1965 fui chamado pelo gerente geral do Radio e da TV, Sr. Luiz Felipe Vieira,  para assumir a editoria  das colunas de rádio e televisão mantidas pelo  Jornal do  Commercio  (matutino) e Diario da Noite (vespertino). As colunas serviam apenas para  noticiar, destacar e enaltecer o que era feito  nas Emissoras pertencentes à Empresa.  Portanto, um  jornalismo parcial, que não me agradava. Mas, tive a felicidade de merecer o apoio e a confiança  do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e  TV-Jornal.  De temperamento forte e comportamento obsessivo pelo zelo,  pelo respeito e pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam ter pela Empresa do “dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por todos.  Não é piada, mas houve um caso em que um funcionário foi pedir um  “vale” -  um adiantamento de salário - porque a mãe havia falecido e o Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a morte de sua  mãe”. E negou o adiantamento.  Pois esse dirigente de quem todos tinham medo era uma pessoa afável comigo.  Foi quem me ensinou, dentro das oficinas do Jornal, a  fazer a diagramação das colunas, arrumando os textos linotipados expostos em calandras  e os clichês (fotos). Depois da montagem da coluna  um gráfico tirava uma prova a gente fazia a revisão e autorizava  a publicação. Esse trabalho puramente artesanal  levava pelo menos uma hora e era feito pela manhã (para a edição do “Diário da Noite”, que circulava à tarde) e à tarde (para a edição do “Jornal do Commercio” que circulava no dia seguinte).  O sr. Vieira e o gerente de programação do Radio Jornal aprovaram a minha indicação para coordenaro programa “Disco Brinde”, comandado por Nilson Lins. 
          Posso assegurar que o sr.Vieira foi um dos que   contribuíram para que eu conquistasse um espaço no jornalismo pernambucano, ampliando meus horizontes em relação também ao rádio.

         Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”.  Esta foi  publicada no dia 15 de outubro de 1965.      



Novela da Minha Vida: Linha Virada

Foi Fernando Spencer, que escrevia uma coluna de cinema na Folha do Povo, onde eu colaborava também com uma coluna sobre o rádio, quem me informou que havia uma vaga de revisor no Diário de Pernambuco.  Depois de um teste,  ingressei no secular Diário exercendo uma  função extinta no jornalismo de hoje.   Naquele tempo, o texto original escrito pelo redator ia para as oficinas gráficas e o linotipista transformava o  texto em linhas gravadas no chumbo quente da linotipo.  Essa nova impressão seguia em forma de uma prova,  juntamente com o texto original, para ser cotejado pelo revisor.  A tarefa consistia em comprovar as duas versões e observar se havia algum erro.  Assinalado algum erro, o material era devolvido para que a linha em chumbo fosse corrigida. O revisor era o meio-campo entre a redação e a oficina gráfica. Eu, pelo menos, quase não conhecia ninguém
da redação. Ao sair do jornal,  encontrava na calçada  Antonio Camelo, Joezil Barros,  Gladstone Vieira Bello e outros nomes da cúpula do jornal.
       Comecei no prmeiro turno do expediente da revisão,  no período da tarde. Como todo principiante cheio de  orgulho por  estar trabalhando no maior jornal do Nordeste do Brasil naquela época,  iniciei  revisando textos sem maior importância, como,  por exemplo, os anúncios classificados, os roteiros de cinema,  teatro,  anúncios fúnebres,  matérias avulsas, etc.   
Sempre tive maior aptidão pelas letras. Gostava de ler e escrever. Não foi difícil a tarefa. Ao me desenvolver no trabalho, fui transferido com excelente vantagem financeira para o turno da noite – das 7 a 1 da manhã. A família protestou, mas naquela época não havia a  insegurança que domina  as  ruas nos dias de hoje.   Saia  do  jornal,  na  Praça  da Independência, seguia pela Avenida Guararapes e na calçada do prédio dos Correios tomava o ônibus-corujão em direção à minha casa no bairro de Parnamirim.  Trabalhar no período em que o jornal fechava a edição era da maior responsabilidade.  Matérias mais importantes passavam pelas minhas mãos, como,  por  exemplo,  a crônica de professor Aníbal Fernandes, o editorial do jornal,  as chamadas de capa,  inclusive as legendas das fotos que ilustravam a primeira  pagina.  Uma certa noite, com a cabeça pesada pelo sono,  aconteceu o que eu considerei a minha primeira grande tragédia profissional.   Deixei passar uma linha virada na primeira pagina. A linha de texto foi impressa de cabeça prá baixo. Erro imperdoável. E na capa do jornal, nem se fala.  Ao entrar no elevador, o ascensorista foi logo dizendo: - “Tem  um aviso aqui prá você se dirigir  à Superintendência.”.
             E  o elevador me deixou no terceiro andar. O superintendente era o dr. Fernando Chateaubriand, filho de  Assis Chateaubriand, o todo poderoso fundador dos Diários Associados, na época a maior cadeia de jornais e emissoras de rádio e televisão do Pais. 
               A secretaria me anunciou e eu entrei na sala como se estivesse carregando um saco de 50 quilos  na cabeça.  Encontrei atrás de um amplo birô de madeira de lei um cidadão de quase dois metros de altura, que foi logo perguntando:
               - O senhor foi o revisor disso  aqui ?  - e apontou para o jornal na mesa, com um circulo vermelho no texto, onde se encontrava a fatídica linha virada.  Não havia outra resposta, já sabendo por antecipação que estava demitido sumariamente.
                -  “Fui eu, sim senhor.”
                 - “Por que isso aconteceu ?” – quis saber o “todo poderoso”.
                -  “Estava muito cansado, o sono me pegou.” – confessei.
                Aí, veio a grande surpresa. Dr. Fernando olhou prá mim, acreditou talvez na minha sinceridade, e deu um exemplo de vida que sigo até hoje:   - “Sabia que quando  está revisando o jornal o senhor é mais importante do que eu, que sou o superintendente ?”
                   Respondi que não sabia. Ele apertou a minha mão e se despediu assim:  - “Procure superar o sono  e você será um vencedor  na vida.  Vá em frente e que isso jamais se repita.”  -  O saco de 50 quilos que parecia carregar  despencou da minha cabeça,  mas da minha  memória esse fato jamais se apagou.

Secular prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência.
Atualmente, o Jornal tem nova sede no bairro de Santo Amaro

Novela da Minha Vida: Última Hora

         Em 1963, um ano antes da Revolução Militar de 64, eu ingressava no Jornal Ultima Hora, edição Nordeste, cuja sede ficava na Rua Visconde de Goiana, na Boa Vista.  Para mim, uma escola de jornalismo de alto nível, Independente  de sua linha política, já que apoiava Miguel Arraes, tido como defensor do regime comunista.  Minha coluna de estréia foi publicada no domingo, 11 de agosto de 10963.
       O diretor era Mucio  Borges da Fonseca. O editor geral:  Ronildo Maia Leite.  Na chefia do departamento fotografico,  Clodomir Bezerra. Assumi a editoria de rádio e televisão. Escrevia uma coluna que não ultrapassava um quarto de pagina. Diariamente. Dava noticias,  fofocas e
entrevistas curtas com gente que atuava nos meios de comunicação.
Tudo dentro do ritmo dinâmico do jornal que primava por matérias polemicas, linguagem objetiva e direta, evitando os clichês costumeiros dos demais periódicos.  Recordo de um fato que não se passou comigo, mas que me impressionou bastante. Um fotografo do jornal, cujo nome não me recordo, foi designado para fazer a cobertura de uma procissão no centro da cidade. Recomendação do editor:
         - “Não quero fotos de andor, nem de padre,  nem de freira. Quero uma foto expressiva para ilustrar matéria de primeira página.  Se vire.”.
          E o fotografo saiu da redação com  uma preocupação na cabeça. Durante toda a procissão fez dezenas de fotos, mas em todas aparecia  uma parte do andor, ou um padre ou uma freira. Não sabia mais o que fazer para atender o pedido do editor. Já retornando à redação,  avistou uma criancinha fantasiada de anjo, com as mãos postas como se estivesse rezando.  Tacou o dedo no clique da máquina. Foi essa a expressiva foto ;  primeira pagina  do jornal. 
       Essas provocações eram comuns na redação. O obvio não era o ideal. As inovações eram bem aproveitadas. Uma linha de matéria redacional poderia dar uma manchete de oito colunas, como aconteceu comigo.
Certa feita,  escrevi na coluna: 
         - “FPF vai proibir o vídeo-tape do futebol”.
        Foram só essas cinco palavras, sem maiores comentários. O fato me foi confidenciado por um diretor de Televisão, porque na época o futebol era gravado para exibição na noite do mesmo dia. Quando abri o jornal no dia seguinte, lá estava a frase em letras garrafais de canto a canto da pagina, encabeçando a minha coluna.  A repercussão foi grande, mas graças a Deus ninguém contestou a nota.  Se não, eu estaria sumariamente demitido.  
Eram colunistas do jornal: Marcel (Sociedade); M. Barbosa (Cidade Nua); Lula Carlos (Bola na Rede);  Celso Marconi (Cinema); Wilton de Souza (Artes plásticas), Carlos Garcia (Economia), Stelio Gonçalves (Luzes da Cidade), entre outros.        
           Sem querer ser redundante,  fiquei na Ultima Hora até a sua ultima hora, 10 horas da manhã do dia 1 de abril de 64. Entreguei minha matéria na redação e me preparava para sair,  Ronildo  Maia Leite fez o pedido:
         - “Quando você chegar no centro da cidade, observe se há algum movimento  do Exercito e liga prá gente.”
         Jovem, sem muito conhecimento dos rumos da política,  não soube avaliar o dramático  significado daquele pedido. Naquela mesma manhã não cheguei a dobrar a Visconde de Goiana em direção à Avenida Manoel Borba,  andando porque não tinha carro.  Os caminhões carregados de soldados do Exercito  seguiam em direção ao jornal para empastelá-lo.
          Segundo Ronildo Maia Leite: -  “Ultima Hora era um jornal que nada temia e pagou caro pela ousadia.”  
           Fim melancólico de uma verdadeira escola de jornalismo, criada por Samuel Wayner,   onde aprendi  muito convivendo com gente que realmente sabia fazer jornal.

Novela da Minha Vida: As Revistas

Não me perguntem como nem por que, mas o certo é que assumi a tarefa de ser representante-correspondente da já extinta Revista do Radio, que na época era a publicação semanal  segunda colocada em vendas em todo o  Brasil  (a primeira era a Revista “O Cruzeiro”).  A Revista do Radio era dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos e tinha  como secretário de redação Borelli Filho. As duas paginas centrais eram ocupadas pelos “Mexericos da Candinha”, onde os artistas mais consagrados eram visados pelas fofocas e disse-me-disse.  Aliás, nessa época só existia o rádio  e a Nacional   do Rio era a mais poderosa Emissora do País, cujo “cast”  reunia os maiores nomes da musica brasileira. A Revista promovia concursos, entre os quais  o que revelava  a Madrinha do  Radio e a disputa entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba chegava a empolgar meio mundo, com comentários em todas as rodas. 
          A coluna que escrevia era “Rádio de Pernambuco”. A matéria era enviada pelos correios, razão por que existia  a preocupação de mantê-la mais atualizada possível porque chegava na redação da revista com alguns  dias de  atraso.  Eram  pequenas notas sobre o rádio que se fazia em Pernambuco (novos programas, os artistas que mais se destacavam, as fofocas, etc),  com uma ou duas fotos no máximo.  Era minha tarefa tambem  promover a revista nos meios de comunicação. Sempre  que
era autorizado pela Editora distribuía exemplares nas portarias dos programas de auditório da Radio Clube e Radio Jornal.  Quando esteve no Recife,  Anselmo Domingos me convidou para trabalhar na sede da Revista, no Rio de Janeiro, mas o apego à família e a minha própria idade
(pouco mais de 20 anos) me impediram de seguir outro rumo na vida.
            Foi nessa época que a Televisão surgiu e fui convidado para atuar na Revista TVlandia,  que nascia como um guia de programação semanal das TVs Jornal e Clube. A primeira publicação circulou no dia 19 de junho de 1961, com a foto de capa da atriz. Floriza Rossi. Eu assinava uma pagina sobre o Radio. Outros colaboradores: Hilton Marques (hoje produtor do programa de Jô Soares); o saudoso ator e diretor teatral Luiz Mendonça, fundador do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém; Renato Melo, produtor de TV, entre outros. A revista era dirigida pelo publicitário Oliveira Junior e por Geraldo Mayrink, que tinha uma agencia de registros de marcas e patentes.  Rildo Uchoa integrava a direção cuidando da publicidade e a Acê Filmes, de Alcir Lacerda, criava as fotos. 
Os artistas que mais figuravam nas capas: Heloisa Helena, Floriza Rossi, Arlete Sales, Nair Silva, Penha Maria, Nel Blue, Geraldo Liberal. Depois de alguns meses de circulação, assumi a editoria geral da Revista, que era editada pela Gráfica Ilha, que funcionava no bairro de São José.
Quatro meses depois de circular gratuitamente, TVlandia passou a ser vendida nas bancas. Uma tiragem media de 1.500 exemplares semanais, um marco na historia dos periódicos que existiram até hoje  em Pernambuco. 

            Capa da Primeira Edição da Revista TVLANDIA (1961)

A partir de fevereiro de 1962 a TVlandia passou ao comando do  radialista e publicitário Josenildo de Souza Leão, mais conhecido como César Brasil. Outra equipe foi formada:  Adel Barros na gerencia geral e os colaboradores Ednaldo Lucena, Waldemar Garcia, Mário Sabino, Emanoel Rodrigues e outros.  A TVlandia viveu até meados de 1963, quando foi criada a Canal,  outra revista tipo de bolso, com o mesmo
objetivo.  Dirigida pelo casal de atores Jorge Ramos e Fernanda Simões, com secretaria de Miguel Santos e uma equipe de colaboradores de peso: Dias da Silva, famoso psicólogo; o teatrólogo Alfredo de Oliveira e os jornalistas Romildo Cavalcanti e Isaltino Bezerra. Um ano depois de criada, mudou de direção. Assumiram o publicitário Waldir Machado e o artista plástico Wellington Virgolino, com a colaboraação editorial de Fenando Spencer,  Redomark Viana, Wilton de Souza e Fernando Bastos.   Canal circulou até meados de 1965. Sempre com uma  tiragem média de dois mil exemplares semanais  e uma boa aceitação por parte do publico.
  
NAIR SILVA FOI A CAPA INAUGURAL DA REVISTA CANAL

Entrevistando Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio


Novela da Minha Vida: TVU - 27 Anos no Batente

A placa ainda existe na recepção. Está escrito: “Com a alta finalidade de ampliar os horizontes da Educação e de elevar o nível da Cultura do povo do Nordeste e do Brasil, foi instalada esta primeira Televisão Educativa, Canal 11, pela Universidade Federal de Pernambuco. Presidente da Republica: Marechal Arthur da Costa e Silva. Ministro da Educação e  Cultura:  Prof. Tarso Dutra. Magnífico Reitor: Prof. Murilo Humberto de Barros Guimarães. Vice-Reitor: Prof. Jônio Santos Pereira de Lemos. Coordenador Geral da  TV-Universitaria:  Prof. Manoel Caetano Queiroz  de Andrade. Recife, 22 de Novembro de 1968.”
       Integravam o quadro dos primeiros diretores:  José da Costa Porto (diretor administrativo);  Nédio Cavalcanti (diretor técnico);  Jorge José Barros de Santana (diretor de produção); Milton  Baccarelli (diretor de tele-teatro); Mayerber Loureiro de Carvalho (diretor de programação). Havia
também um núcleo de Musica, dirigido por Rafael Garcia. Na TVU nasceram o Quinteto Violado e a Orquestra Armorial.
         Ingressei na TVU como produtor, indicado por Mayerber de Carvalho,  uma das pessoas que mais contribuiu para o meu desenvolvimento profissional. Comecei como  produtor de programas culturais. O primeiro  tinha por titulo “Showclopedia”, que estreou em abril de 1969,  lembrando uma  enciclopédia em vídeo.  Um dos programas de maior repercussão, do qual participei junto com Sergio Kyrilllos,  foi  “A Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. Em convenio com a Secretaria Estadual de Educação era desenvolvida uma competição cultural com a participação das escolas. Para evitar a disputa antipedagógica Escola   x Escola, a briga era alunos x alunas. Meninos contra as meninas, disputando quem acertava mais perguntas sobre conhecimentos gerais. Nessa linha cultural, integrei a equipe de produção do programa “A Alma Encantadora  das Ruas”.  Durante 8 anos fui o produtor do programa “João Alberto Informal”, apresentado pelo jornalista João Alberto Sobral. Exercí a  coordenação da  equipe esportiva que gravava os jogos do campeonato e
cheguei a participar como repórter da inauguração dos estádios estaduais de João Pessoa e Campina Grande,


       Em 1971,  a OEA – Organização dos Estados Americanos – patrocinou o  Projeto Multinacional de Televisão Educativa,  com o propósito de  promover o intercambio de técnicos entre os países que desenvolviam  tecnologias  educativas. Fui escolhido para representar o Brasil, juntamente com  a companheira Ivanise Palermo. Designados para as cidades do México (D.F)  e Bogotá,  Colômbia,  participamos da experiencia  durante  dois meses, de 18 de março a 11 de maio de 1971.  

Professor e alunos do Curso de Radio Educativo – Porto Alegre - RS

       ATVU  me proporcionou outras viagens. Participei de um Curso de Radio Educativo, patrocinado pelo Prontel – Programa Nacional de Teleducação, do MEC, e que foi executado pela Fundação Educacional Padre Landell de Moura, FEPLAN. O curso foi ministrado pelo produtor da BBC, de Londres, prof. John Volden e teve como local um centro educacional mantido pelos Irmãos Marista, em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre.
           
           Ainda como representante da direção da TVU participei de várias reuniões de dirigentes de Emissoras Educativas do Brasil.  Esses encontros ocorriam todos os anos sempre numa capital diferente – Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Terezina, Fortaleza, Manaus.
            Durante 27 anos exerci várias atividades no Canal 11.  Depois de ingressar como produtor,  fui repórter,  apresentador de programas, chefe  do departamento de jornalismo e vice-diretor, quando resolvi me aposentar  em 1992.    

Como diretor de Jornalismo da TVU, sendo cumprimentado por
dirigente do MEC. Na foto,  o  dr. Francisco  Dário Mendes da Rocha, Diretor Geral do  Canal 11  e o vice-reitor Armando Samico, da UFPE

Com as colegas Wanda Phaelante e Alice Rolim
Comandado pelo saudoso apresentador José Maria Marques, o programa “A Noite é do 11” reunia estudantes da rede de ensino do Estado..  Como diretor do programa,  contei  com a valiosa  colaboração do companheiro  Sérgio Kyrillos  e a participação de toda a equipe técnica da TVU.


RUI CABRAL E LUIZ MARANHÃO FILHO

       Foram companheiros de todas as horas na TV-Universitária.
O saudoso Rui Cabral se  notabilizou  com o  quadro “Cadeira de Engraxate”, na TV-Jornal, chegando  a entrevistar o então Presidente da Republica, Juscelino Kubstchek.  Maranhão, experiente professor universitário  na área da Comunicação Social,   advogado e escritor, foi  diretor administrativo e de Jornalismo do  Canal 11.  Tivemos alguns “pegas”,  mas todos imbuídos da vontade de fazer o melhor pela Primeira Televisão Educativa do Brasil. 

Novela da Minha Vida: Carnaval pela TVU


      Na década de 70 o folião se divertia, preferencialmente, de duas maneiras: os que tinham mais dinheiro para gastar iam aos  clubes sociais (Português, Internacional, Cabanga, Sport, Nautico, etc.)  onde as grandes atrações  eram as orquestras contratadas para tocarem nas quatro noites de Carnaval comandadas pelos maestros Nelson Ferreira,  Guedes Peixoto, José Menezes, Clovis Pereira, Duda, etc.  A outra forma, mais popular,  era assistir, no centro da cidade, aos desfiles das agremiações carnavalescas, que recebiam subvenções da prefeitura para ajudar nas exibições perante o publico.   Algumas agremiações chagavam a  arrastar grandes torcidas ao espetáculo. Entre elas estavam o Clube das Pás, Estudantes de São José, Gigantes do Samba,. Galeria do Ritmo, Vassourinhas, Lenhadores, Bloco Batutas de São José,  Banhistas do Pina, Caboclinhos Sete Flechas, e tantas outras.  Local dos desfiles: Avenida Dantas Barreto, num trecho próximo ao Pátio de São Pedro, onde eram montados palanques para as autoridades e arquibancadas para o publico.
         A TV-Universitária  tinha uma programação voltada para a educação e a cultura e práticamente 80% era produção local. No Carnaval, a TVU se notabilizava ao transmitir os dois grandes bailes pré-carnavalescos – Bal- Masque e Baile Municipal e os desfiles das agremiações. Tanto nas quatro noites  como no desfile das campeães  a Emissora fazia o registro de tudo, conquistando uma audiência realmente invejável.   Participei  desse  trabalho, exercendo as  atividades de  apreserntador e repórter, e ainda cheguei a comandar um programa na noite da quarta-feira de Cinzas, intitulado  “Balanço do Carnaval”, reunindo jornalistas, radialistas, dirigentes de  agremiações e da Comissão Organizadora do Carnaval, quando eram analisados os fatos positivos e negativos dos festejos.  Esse programa conseguia movimentar os carnavalescos, que 
Sempre  o aguardava com certa ansiedade.
          Não posso deixar de reconhecer que fazia tudo com muito entusiasmo e  empolgação .   Era um torcedor inveterado, que lutava pelo engrandecimento  do  Carnaval mais popular,  aquele que nascia na alma da gente humilde dos bairros mais proletários da cidade.   Infelizmente, a violência e o custo de vida foram  modificando hábitos e costumes do nosso povo. Os desfiles das agremiações já não despertamo interesse da população, poucos são os bailes carnavalescos e já não existem frevos como antigamente.
        Sem ser saudosista demais, acho que o Carnaval mudou para pior,lamentavelmente. 

Programa “Balanço do Carnaval” - TVU                 

Miguel Santos,Jader de Oliveira e Zuca Show.

Novela da Minha Vida: O Repórter

       
O material era editado para tirar as falhas e o editor tinha que redigir o texto de acordo com o tempo  útil do filme finalizado . No caso do mini-tape, o custo era menor, não havia muita dificuldade para editar e o repórter podia fazer  a narração e/ou a  entrevista simultaneamente com a capitação das imagens, como acontece hoje em dia. Quando ocupava a função de repórter na TV Universitária tive o privilegio de ser um dos primeiros repórteres a utilizar o vídeo-tape portátil, mais conhecido por mini-tape,  que substituía as câmeras de filmagem em 16 milimetros. O filme  cinematográfico era mais caro e mais complicado. Exigia laboratório para revelar as filmagens feitas.
       O primeiro vídeo-tape portátil  adquirido pela TV-U consistia em uma câmera e um gravador, que fazia a gravação em fita magnética. Prático porque quando não precisava de edição a matéria era transmitida imediatamente.
        Com a mobilidade do VT portátil fiz algumas matérias inéditas. Por exemplo:   mostrar todo o funcionamento do tradicional farol de Olinda.  Fui talvez o primeiro repórter de TV e chegar na área onde a enorme lâmpada gira durante a noite orientando os navios que passam pela costa pernambucana. Foi preciso autorização do Comando da Base Naval para a realização da reportagem.
         Outra matéria cheia de lances emocionantes foi o acompanhamento da Buscada de Itamaracá, num barco meio rústico, que exigiu muito equilíbrio e sangue frio da equipe. O mar agitado quase jogou o câmera e o seu equipamento no mar.  Mas, conseguimos realizar a proeza a tempo de exibir o vídeo no programa   “A Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques.
          Quando o novo comandante do Segundo Comando Aéreo foi realizar a sua   primeira  visita  à  Base  Aérea  de  Natal (RN),  o mini-tape o acompanhou.  Viajamos num avião militar, documentamos a cerimônia de apresentação  do novo comandante e retornamos ao Recife. Na volta, o piloto achou por bem sobrevoar o litoral num vôo rasteiro. Quase botei o intestino pela boca...
           Mais dramática foi a explosão da “Fábrica de Pólvora Elephant”, que existia em  Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, em 1995.
Estava com a pauta da manhã voltada para a chegada no aeroporto do então
Ministro da Educação, Paulo Renato Souza  Matéria recomendada até pela TV-Educativa,  do Rio de Janeiro.
             No exato momento em que uma Emissora de Rádio divulgou a ocorrência, que matou sete operários e deixou mais de dez feridos,  segui  para o local, mesmo contrariando a minha  equipe que achava mais importante a chegada do Ministro.  Com  a câmera postada na frente da fábrica, fiz a “cabeça”  da matéria (repórter em primeiro plano da ocorrência)  registrando ao fundo a passagem das ambulâncias conduzindo as vitimas. Terminado o trabalho, voltei a tempo de alcançar o Ministro e gravar a coletiva de imprensa na sala vip do aeroporto.
            Quando cheguei na redação levei uma bronca  do meu chefe, Luiz Maranhão Filho, alegando que havia me arriscado muito e, contrariando a pauta,  poderia ter perdido a entrevista com o Ministro, que era muito mais importante.

              As duas matérias foram enviadas, naquele tempo via Embratel, para a edição nacional do Jornal da  TV-Educativa,   que era transmitido para todo o Brasil.   E a surpresa  foi quando o jornal abriu com a matéria da  explosão da fábrica. A entrevista com o Ministro foi exibida no ultimo bloco do jornal.  Essa mesma fábrica de pólvora foi transferida para o município de Barreiros, na Mata Sul do Estado, e voltou a explodir em 2013, fazendo novas vitimas.

Reportagem na Base Aérea de Natal (RN), em 1971,
          Cinegrafista Jairito e o repórter Miguel Santos..