Sempre gostei de escrever.
Quando estudava no Ginásio São Luiz criei um jornalzinho
manuscrito, que passava de mão em mão,
divulgando eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo
os coleguinhas do segundo período do curso colegial.
Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional de Seguros
de Vida, em 1958, editei o jornal ”O
Timoneiro”, este já produzido em uma
gráfica. Circulava internamente,
com exemplares distribuídos entre
funcionários, corretores e médicos da empresa.
Ainda em 1958 comecei a colaborar
com a “Folha do Povo”, um jornal
criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação ocupava duas
salas no Edifício Vieira da Cunha, na
Rua Floriano Peixoto e aí pude desenvolver todos
os meus desejos de ser um jornalista completo.
Comecei escrevendo uma coluna
sobre o Rádio (ainda não existia a Televisão) e, em seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma
das quais denunciava a retirada de
corpos ainda em estado de decomposição no Cemitério de Casa Amarela.
A reportagem gerou notas de
esclarecimento por parte da Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os jornais da cidade. Como o jornal
apoiava o Governo pensei que fosse afastado, mas recebi parabéns não só porque
o jornal faturou a nota oficial como porque a matéria era verdadeira e ganhou
repercussão.
Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser revisor (um episodio dessa
época faz parte de outro artigo deste trabalho). Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo
jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda
hoje é na Rua do Imperador.
Já existia a Televisão e
passei a editar uma coluna sobre as
atividades desenvolvidas no radio e na TV. Mas, como simples colaborador.
Experimentei vários
pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos. Afinal, comecei mesmo num jornal
comunista e queria esconder o meu nome verdadeiro. Fui até
Francis, um colunista de discos fonográficos.
Foi a partir de 1963 que
efetivamente passei a ser jornalista
profissional atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho
político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste trabalho.
Em 1965 fui chamado pelo gerente
geral do Radio e da TV, Sr. Luiz Felipe Vieira, para assumir a editoria das colunas de rádio e televisão mantidas
pelo Jornal do Commercio (matutino) e Diario da Noite (vespertino). As colunas serviam apenas para noticiar, destacar e enaltecer o que era
feito nas Emissoras pertencentes à
Empresa. Portanto, um jornalismo parcial, que não me agradava. Mas,
tive a felicidade de merecer o apoio e a confiança do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e
TV-Jornal. De temperamento forte e comportamento
obsessivo pelo zelo, pelo respeito e
pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam ter pela Empresa do
“dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por todos. Não é piada, mas houve um caso em que um
funcionário foi pedir um “vale” - um adiantamento de salário - porque a mãe
havia falecido e o Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a
morte de sua mãe”. E negou o
adiantamento. Pois esse dirigente de
quem todos tinham medo era uma pessoa afável comigo. Foi quem me ensinou, dentro das oficinas do
Jornal, a fazer a diagramação das
colunas, arrumando os textos linotipados expostos em calandras e os clichês (fotos). Depois da montagem da
coluna um gráfico tirava uma prova a
gente fazia a revisão e autorizava a publicação. Esse trabalho puramente
artesanal levava pelo menos uma hora e
era feito pela manhã (para a edição do “Diário da Noite”, que circulava à tarde)
e à tarde (para a edição do “Jornal do Commercio” que circulava no dia
seguinte). O sr. Vieira e o gerente de programação do Radio Jornal
aprovaram a minha indicação para coordenaro programa “Disco Brinde”,
comandado por Nilson Lins.
Posso assegurar que o sr.Vieira foi
um dos que contribuíram para que eu conquistasse um
espaço no jornalismo pernambucano, ampliando meus horizontes em relação também
ao rádio.
![]() |
Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”. Esta foi publicada no dia 15 de outubro de 1965.
|