Apesar de ter sido produtor
de diversos programas de rádio e televisão, inclusive alguns de auditório,
foram poucas as oportunidades que tive de contatos com Luiz
Gonzaga – o Rei do Baião. Três momentos, porém, marcaram
definitivamente a minha vida em relação a esse artista que se imortalizou como o
maior divulgador da musica nordestina.
Lembro de Gonzaga dando uma
entrevista no programa de Samir Abou Hana na Radio Tamandaré num ano que não me
recordo mais. A segunda oportunidade foi mais marcante. Como produtor do “Programa Jota Ferreira”, mantinha
uma equipe de jurados para avaliar o quadro de calouros, que era uma das grandes atrações do programa
transmitido aos sábados, à tarde, do
auditório da TV-Jornal. Uma das
juradas era Edelzuita Barros, uma moça muito
simpática, que àquela altura era
“namorada” de Gonzagão. Eu não sabia dessa amizade. Quando decidimos realizar um
grande show no Geraldão
para assinalar a passagem do primeiro aniversario do programa, mais de uma
dezena de artistas famosos vieram do sul do pais para participar da festa. E
entre eles estava “seu” Lula.
Antes de o espetáculo
começar, fui até a área destinada aos artistas para anotar os nomes dos que já
haviam chegado e me deparei com Edelzuita, que, ao me ver, correu para
me abraçar e me beijar como fazia sempre de um modo muito carinhoso e
respeitoso. Não observei que Gonzagão estava
ao lado dela com uma cara de
poucos amigos. Edelzuita percebeu o
clima e disse pro grande artista de
Exu:
- “Gonzaga, este é o produtor de
Jota Ferreira, que me dá a feliz oportunidade de participar do
programa. É um grande amigo meu”
“Seu” Luiz apertou minha mão, mas
senti que o ciúme tomava conta dele naquele momento.
Edelzuita foi o ultimo grande
amor de Gonzagão. Com muita dedicação e carinho, ela acompanhou sua agonia no Hospital Santa Joana, onde ficou
internado até o fim de sua vida. Como repórter da TVU, estive por mais de uma vez no hospital e entrevistei o medico
que o acompanhou nos últimos momentos de sua vida.
No dia do velório no plenário
da Assembléia Legislativa, lá estava
eu de novo me encontrando com Luiz Gonzaga, desta feita numa situação
extremamente triste: ao lado de sua urna
funerária. A TVU mostrou ao vivo as
enormes filas que se formavam ao longo da Rua da Aurora e as pessoas mais ilustres que
chegavam para velar o corpo do inesquecível artista. Entrevistei, na ocasião, Rosemary, Gonzaguinha, Reginaldo Rossi, Alcymar Monteiro, entre outros. Eu estava
ao lado do caixão com o microfone da TV, quando
chegou o Arcebispo de Olinda e Recife,
Dom Helder Camara para celebrar a missa de corpo presente. Quis ouvir alguma palavra do nosso
inesquecível Arcebispo e perguntei:
- “Dom Helder, um momento de muita
dor para todos nós...?”.
Ele encerrou a entrevista sem
começar, Disse apenas:
- “O momento é de silencio e
prece, meu filho”.
E fiquei com a cara no chão.
Instantes depois, o corpo de
Luiz Gonzaga seguiu numa viatura do
Corpo de Bombeiros para o aeroporto
militar, onde um avião o levou para Exu, sua ultima morada.