A primeira vez foi quando o Rei da Jovem
Guarda ainda despontava com o seu primeiro sucesso: “Calhambeque”. Eu era assistente da Supervisão
Administrativa da TV-Jornal. Naquela época, o organograma da Emissora era dividido por
supervisões – a Administrativa, a Artística, a Técnica. Eu fazia parte da administrativa, tendo como
meu chefe o inesquecivel Mayerber de Carvalho, de quem guardo muitas lembranças
e de quem sou profundamente grato por
ter me orientado nos primeiros anos das minhas atividades no Radio e na
Televisão. Voltando a Roberto Carlos. Ele tinha vindo participar do programa “Noite de
Black-tie”, o super-programa de
auditório dos sábados comandado por Luiz
Geraldo. A supervisão administrativa
ocupava uma sala ao lado do gabinete da superintendência e nessa noite, além do
Superintendente da Empresa JC, Paulo
Pessoa Queiroz, estava também o fundador
F. Pessoa de Queiroz, então Senador da Republica, e alguns familiares, inclusive alguns
adolescentes netos do grande empresário
de comunicação. Além de cuidar da burocracia daSupervisão Administrativa, eu
me ocupava também de dar assistência ao Superintendente, quando ele lá estava
em seu gabinete. Nessa noite,
terminada a apresentação de
Roberto Carlos no palco-auditorio, que
era o Estúdio A do Canal 2, dr.
Pessoa fez o pedido:
- Peça pro Roberto vir até aqui para que meus netos possam cumprimentá-lo” - saí, então, como uma bala pelos corredores da Emissora até encontrar Roberto Carlos já dentro do carro estacionado na porta lateral
de acesso ao estúdio onde havia se apresentado. Fui direto ao assunto, sem
passar pelo seu empresário:
- ”Roberto, o senador
F. Pessoa de Queiroz
gostaria de cumprimentá-lo.”
Roberto foi atencioso, mas respondeu
que estava muito cansado e que receberia, sim,
o senador mas no hotel onde estava hospedado.
Voltei com o sentimento de
ter fracassado na missão que me havia sido
confiada, mas como sempre fui
uma pessoa que entendia os sentimentos
das pessoas, principalmente
de um cantor que, pór ter sofrido um acidente,
tinha ainda dificuldades de
andar e até de subir lances de escadas como teria que fazer para chegar ao
gabinete do Senador, transmiti o recado de Roberto, informando que ele o aguardava no hotel.
Dr. Pessoa juntou a família, e mais que
depressa rumou para o Hotel São Domingos, na época o melhor existente no centro
do Recife. Lá, Roberto Carlos recebeu os netinhos e familiares
do homem forte da comunicação em
Pernambuco e então Senador da Republica.
O segundo ato dos meus três
encontros com Roberto Carlos
foi no então Hotel Othon Palace, em Boa Viagem. Já era considerado um
grande ídolo do Brasil. Tanto que a
imprensa foi convocada para.uma entrevista coletiva. Compareci na condição de produtor executivo do “Programa Samir Abou
Hana”, da Radio Tamandaré, líder de
audiência na época. Dois fatos marcaram
esse meu segundo encontro com Roberto
Carlos. O primeiro deles ocorreu já no finzinho da entrevista. Tinha sido encarregado por Samir de obter
algo que eu próprio não esperava que fosse conseguir. Mas, engatei o pedido inusitado para o meio do ano:
- “Roberto, grava uma
mensagem de Natal para os ouvintes da Radio Tamandaré”
Lembro que Roberto deu uma gostosa
gargalhada:
- “Mas, bicho, mensagem de Natal em pleno mês de maio ?”
A “risadagem” tomou
conta da sala inteira. Os
puxa-sacos queriam agradar ao chefe. Foi quando Roberto surpreendeu a
todos:
- “O rapaz está certo. Eu não vou voltar este
ano ao Recife e esta é a oportunidade que ele tem de fazer esse pedido. Vou
atendê-lo, cara. Prepara o gravador. E
mandou ver uma mensagem de Natal exclusiva para a Radio Tamandaré e ainda emendou com outra para o Fim do ano.
Samir agradeceu a minha valiosa conquista
e a Tamandaré teve o privilegio de
irradiar uma mensagem natalina personalíssima naquele ano
na voz do não menos
consagrado ídolo de todos os brasileiros.
Nessa mesma coletiva, eu fui
mais longe. Quando RC se preparava para
sair, novamente lhe indaguei:
-
“Daria prá você cumprimentar um companheiro que está no estúdio, nesse
momento, fazendo um programa com suas musicas ?”
- “Pois, não. Liga prá ele, cara “
Imaginem o sufoco. Um telefone extensão
na sala vip do hotel para eu ligar para a central técnica da Radio. Fiz
primeiro o contato com a telefonista do hotel, que imediatamente me colocou em
contato com Biu Montanha, o operador da central da Radio Tamandaré. Biu não
quis acreditar no que eu dizia. Chamou o saudoso Rui Cabral, que era o
produtor de Ednaldo Santos,
que estava no estúdio realmente comandando um programa entremeado de musicas do
rei RC. Convencer Rui que eu estava com
RC diante de mim e que ele ia falar ao
vivo com Ednaldo Santos foi um dos
momentos mais angustiantes da minha vida.
Rui não queria acreditar. Pensava que era uma das minhas brincadeiras.
Até que de tanto insistir,
ele mandou Biu “linkar” a linha com o
estúdio.
Quando Ednaldo Santos (fã ardoroso de
Roberto) disse, sem acreditar:
- “Parece que o Roberto
Carlos está na linha...”.
Roberto cortou:
- “Estou sim, Ednaldo Santos. Boa tarde,
bicho.”
Ednaldo
quase cai da cadeira. Foi um papo de quase meia hora. Roberto em
pé, os assessores cobrando-lhe o fim do
telefonema, e Roberto no maior papo com Ednaldo
Santos. Para o querido comunicador que hoje
atua no Radio Jornal, foi uma das
maiores emoções de sua vida.
O terceiro e ultimo ato dos
meus encontros com Roberto Carlos se
deu no Geraldão. Samir Abou Hana, líder de audiência já na Radio Globo, tinha
uma entrevista agendada com o idolo em
seu camarim no proprio Geraldão, onde realizaria um grande show de casa lotada.
RC chega sempre muito cedo aos locais onde se apresenta para se ambientar,
passar o som, fazer um pequeno ensaio, e até relaxar antes do espetáculo. Nessa tarde, chegamos por volta das 4 horas.Eu
também trabalhava no Jornalismo da TV-Universitaria
e apoveitando o momento achei que podia também gravar uma ,entrevista para a
TVU e uma equipe foi escalada também para o local.
Fim da
entrevista gravada por Samir fiz o pedido a Roberto:
- “Podemos gravar uma
mensagem para a primeira Televisão Educativa do Brasil ?,”
Roberto foi sincero. Estava ali muito à
vontade, de cara limpa, e que preferia que a entrevista fosse dada antes do
show. E aí foi que eu passei a admirar o grande artista. Ele
mesmo produziu a entrevista como se
fosse um editor de jornalismo. E explicou como tudo deveria acontecer:
- “Você chega na porta aqui
do camarim, dá uma batidinha, eu abro, você conversa comigo aqui na porta, eu
me despeço e subo aquela escada como se fosse para o
palco. Você, então, edita a minha imagem já no palco e começando o show. Tá legal assim,
cara ?”
Tava mais do que legal. E foi assim que
aconteceu. Uma matéria elaborada pela imaginação do excepcional artista.