Não sei se deveria contar. Mas, vou soltar
o verbo. Como jornalista e produtor de Radio e Televisão tive de conhecer de perto diversas celebridades do
meio artístico. Tive uma convivência com
Consuelo Leandro, durante um período em que ela vinha todas as semanas
participar do programa Você faz o Show.
Terminado o programa, Consuelo se reunia com as famílias de Renato Silva e Luiz
Queiroga, que moravam próximos, e a madrugada era pequena para os longos papos.
Muitas vezes, Consuelo saia direto para o aeroporto. Apesar de muito famosa,
nunca teve uma crise de estrelismo.
Do mesmo modo que convivi com gente
simpática como Consuelo, alguns caras irresponsáveis também passaram pelo meu caminho. Certa vez, foi o cantor
Altemar Dutra. Ao chegar aos bastidores
da TV-Jornal pude perceber que ele
estava sem condições de se apresentar em publico,
devido ao seu estado
etílico. Ciente da minha
responsabilidade, dei uma desculpa, alegando
que o programa estava com o horário estourado e que não havia mais
espaço para ele se apresentar. Saiu esculhambando o programa, a Televisão e o
produtor. Como não anunciávamos com antecipação
os convidados do programa, o publico não percebeu a ausência de Altemar
Dutra, que uma semana depois viajou para
os Estados Unidos, onde veio a falecer.
Outro que quis armar um barraco foi o
cantor Waldik Soriano. Na produção do programa de
Jota Ferreira eu ficava sempre numa área entre o auditório e o palco do estúdio
A da TV-Jornal. De repente, ouvi um
murmúrio forte vindo do publico e quando me virei observei que Waldik estava se preparando para descer as escadas e
invadir intempestivamente a cena do programa no momento em que Jota entrevistava
uma senhora que fazia um apelo em favor de uma instituição de caridade. De
imediato fiz sinal para Waldik voltar.
Ele quis insistir e eu fui até ele e disse que o caminho para se
apresentar no programa era outro, não daquela forma. Na sala
de espera dos artistas, soube que ele só não me chamou de “arroz
doce”... Mesmo assim, Waldik Soriano participou do programa e
mereceu os aplausos do publico que o admirava. No final de tudo, ele
humildemente veio me pedir desculpas, alegando que queria fazer o mesmo que
teria feito em outro programa de auditório no sul do país.
Outro que me deu muito trabalho foi Chacrinha. Nos vários contatos que tivemos,
tanto no Recife como no Rio e em São Paulo, onde eu estive por mais de uma vez,
pude avaliar o quanto ele era ativo, um dínamo em permanente rotação.
Quando me pediu para divulgar um disco que havia lançado para o
Carnaval, ele ligou às 3 horas da madrugada para apenas perguntar:
- “E aí, Miguel Santos, como anda
a divulgação do meu disco aí em Recife ?” - Nem
parecia que era 3 da matina....
Outra vez, em pleno restaurante
lotado do Mar Hotel , ao lhe informar que o programa dele
na Rede Globo perdia em audiência
para o Programa Jota Ferreira, ele não se conteve:
- “ Esse porra nunca ganhou
prá mim. Eu sou o Chacrinha, cara...”
- e o palavrão ecoou por todo o salão e
os circunstantes se viraram para a nossa mesa.
Num show que montamos em praça publica em Jaboatão dos Guararapes,
ele estava impaciente. Conversava com o Prefeito Geraldo Melo, mas não tirava os olhos do
relógio. É que sua esposa, dona Florinda, chegaria num vôo às 11 da noite para passar o
fim de semana com ele. Chacrinha não se
conteve e subiu ao palanque antes do
tempo. Pegou o microfone e saiu convocando calouros e o conjunto musical,
Ninguém estava preparado para começar o
show. Foi preciso puxá-lo para um canto,
tomar o microfone da mão dele e dizer:
- “Chacrinha, não é hora de
começar. Tenha paciência...”
Ele saiu resmungando e
alegando que queria terminar logo para encontrar com a mulher. Só voltou a
fazer o show depois que a gente montou uma logística para recepcionar a esposa
no aeroporto e levá-la para o hotel. O que realmente aconteceu.
Certa vez, Paulo Marques e
eu chegamos ao Hotel Danúbio, em São Paulo. A recepção do
hotel anunciou a nossa presença. Chacrinha mandou a gente subir. Quando
entramos no apartamento, ele estava sentado no vaso sanitário lendo o jornal.
Detalhe: o banheiro estava coberto de paginas do jornal, Quando ele
acabava de ler, jogava o pedaço do jornal no chão.... uma balburdia muito típica do seu
comportamento.
Mas, Chacrinha era uma
figura folclórica, bem humorada, elétrica e muito humana. Um pernambucano que muito nos
honrou como artista consagrado no Brasil.
Chacrinha cercado de radialistas
conterrâneos: - Miguel Santos, Bob Nelson e Roberto Nogueira.
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Outra grande
bronca foi com um
ator de novela da TV Bandeirantes. Nome: Rubens di Falco.
Veio ao Recife junto a uma caravana de artistas da
Emissora paulista para se apresentar no Baile Municipal. Era costume as Televisões
enviarem seus artistas para essa
exibição na festa
pré-carnavalesca mais badalada da cidade. A Rede Globo mandava um grupo e a Band
também. Até a extinta Rede Manchete
fazia o mesmo. Fiquei assessorando a permanência dos
artistas da Band, afiliada à TV-Jornal, desde a chegada deles no aeroporto.
Na hora prevista para
chegar ao baile, fui buscar os artistas no Mar Hotel, em ônibus de luxo. Todos já estavam prontos no hall,
menos o tal do Rubens di Falco. Liguei para o quarto dele. Pediu para eu subir.
Quando cheguei, ele estava de olho na
televisão, que já dava ”flashes” do Clube Português. Disse-me então; - “Só vou chegar no baile depois da
apresentação do pessoal da Globo” Quem
era ele para se tornar tão estrela assim ? Não disse isso, mas tive vontade.
Quis convencê-lo de que eu tinha recebido ordens para que todos estivessem no clube até as 9 da
noite. Ele insistiu que queria chegar depois da apresentação dos artistas
globais. Aí, eu engrossei:
- Pois você vai de táxi porque todo pessoal
já está no ônibus esperando.” E saí do quarto. Ao chegar na recepção do
hotel já havia uma recomendação para que eu o aguardasse, que ele já estava
descendo. E foi o que aconteceu.
Para concluir esse
capitulo dos atritos com celebridades, vem o episódio com a cantora
Nara Leão, musa da bossa nova. Ela veio se apresentar no programa “Noite
de Black-tie”, comandado por Luiz
Geraldo. Eu era assistente da direção
administrativa da TV Jornal e fui
incumbido de levar a consagrada artista para João Pessoa, após o programa.
Contratei dois taxis para a viagem. No primeiro veiculo, iam a cantora, o empresário e eu. No outro, os três músicos que a
acompanharam. Destino: Clube Jangada, o mais sofisticado da
sociedade paraibana, inteiramente lotado para aplaudir aquela que fazia parte
da ala dos artistas que condenavam a ditadura militar implantada no País. Após
o show, fui orientado por Alfredo de
Oliveira para receber o cachê das mãos do presidente da agremiação, Fernando
Milanez. Quando o procurei, ele me
pediu: - ‘Leva Nara até a mesa do
governador. Ele quer cumprimentá-la.”
Nara já estava dentro do táxi,
cansada, louca para fazer a viagem de volta ao Recife. Ela foi incisiva:
- “De jeito nenhum Vim aqui fazer um show, não
foi fazer
media com governador algum.”
Dei a desculpa do cansaço da
cantora , mas Milanez, foi grosseiro:
- “Só pago quando ela
for pra mesa do governador”. –
pegou a mulher e foi dançar no salão.
A encrenca estava
formada. Não tive dúvidas. Dei um
tempinho, saí à procura do cara dentro do salão e
sapequei:
-“ Nara está uma
fera. Vai à imprensa denunciar que o
senhor não quer pagar o cachê dela”.
A ameaça
inventada por mim foi a solução. Ele
abandonou a mulher no meio do salão, saiu comigo até uma sala e pagou o que
devia. Saí aliviado. Nara Leão ainda perguntou
por que eu havia demorado tanto, E inventei outra mentira: - “O
governador fez questão que eu fosse porta-voz de seus agradecimentos pelo
maravilhoso show que você proporcionou à sociedade paraibana.” - Nara aceitou a desculpa e fez a viagem de
volta dormindo no carro...
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