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RADIO JORNAL – 70 ANOS (1) Nos 70 anos do Radio Jornal quero relembrar alguns companheiros do meu tempo quando lá trabalhei pela prime...
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Ter amigos não é privilégio de ninguém. No entanto, ter bons e desinteressados amigos é privilegio de poucos. Eu me sinto recompensado ...
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Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio C...
Capítulo de Apresentação
Escrever um livro ou uma
auto-biografia, mesmo
autorizada, nunca havia passado pela minha cabeça. Até porque escrever sobre mim mesmo tem um
ar de pieguismo ou de esnobismo ou de exibicionismo e outros ismos....
Mas, com o advento dessa poderosa maquina que é a Informática e sua tecnologia maravilhosa, me aconselharam a fazer um livro digital. Você lê uma vez e joga fora a mídia, para não ocupar espaço na sua estante.
Como um ser
aposentado decidi, então, aproveitar a
maioria das minhas horas vagas para
escrever essas linhas, que são,
antes de tudo, fragmentos interessantes,
curiosos, e até mesmo gozados da minha
vida profissional, que
se não foi
tão significativa o foi de grandes
e imorredouras emoções.
Não levem em
conta os nomes de amigos e colegas não citados na narrativa. Afinal, numa tarefa como essa fica muito
difícil a gente lembrar de tudo e de todos.
Posso garantir
que se trata de uma obra que não
vai interessar aos
estudantes de Comunicação, mas,
que, certamente, vai deixar “água
na boca” nos companheiros que, mesmo de
longe, vão relembrar alguns dos momentos por mim
vividos e aqui narrados.
Miguel Santos
Jornalista/Radialista
(com muito orgulho)
Novela da Minha Vida: Capitulos
01
- Rádio no sangue
02
- Bibi Ferreira e eu
03
- Novo Rádio
04
- Jornais &
Jornais
05
- Linha virada
06
- Ultima Hora
07
- As Revistas
08
- TVU: 27 anos no
batente
09
- Carnaval pela TVU
10
- O Repórter
11
- Verdade ou Mentira
?
12
- Elefante e
confusão
13
- Minha estréia no
Cinema
14
- Meu Bairro é o
Maior
15
- Guina: quanta
saudade !
16
- Show do Homem com
“H”
17
- Meu encontro com
Lula
18
- Mister John
19
- Luiz Gonzaga – o
Rei do Baião
20
- Roberto Carlos em
três atos
21
- Claudia Barroso e
Garin
22
- O mundo que
conheci
23
- Artista é quase isso...
24
- Sustos no ar
25
- Atritos com Celebridades
26
- Dominguinhos e
Calheiros
27
- Colegas e Amigos
28
- Campanhas Políticas
29
- Eventos produzidos
30
- Linha do Tempo
Novela da Minha Vida: Rádio no Sangue
Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio Clube. Tinha um aditivo a mais: meu tio-padrinho era outro que gostava
e conhecia muita gente que atuava em
rádio. Lembro que ele costumava contratar um verdadeiro serviço de alto-falante
que era instalado no amplo terreno em volta de sua casa nos aniversários do meu
primo. Eu comandava o show, fazia
brincadeiras com os coleguinhas, uns
cantavam, outros aplaudiam e eu era quem
falava ao microfone. Por volta dos 12 anos de idade, freqüentava o auditório do Radio Jornal, nos domingos, à tarde, para assistir ao programa comandado por Ernane Seve e sua secretária de palco,
Cacilda Lanuza, levado por uma moça amiga da família.
Fui crescendo e meu padrinho alimentava
a idéia de que eu deveria ser um locutor de rádio. Quando fiz meus 18 anos, ele conseguiu que eu fizesse um estágio na recém inaugurada Radio Olinda, cuja sede ficava na ladeira de São Francisco, em
Olinda, mas que mantinha um estúdio
avançado de jornalismo num
prédio da Avenida Guararapes. Foi nesse estúdio que recebi as primeiras
orientações do jornalista Geraldo Seabra, que era o chefe do departamento de jornalismo
da Emissora. Quando começava “A Voz do Brasil”, eu entrava no estúdio para
gravar o jornal-falado, que tinha sido
irradiado uma hora antes. Devo ter passado um mês inteiro fazendo isso, até que eu próprio
desisti do estágio, porque naquela época (1957) não era qualquer um que botava a boca
na “latinha”.
Mas, o “virus” do rádio já tinha
tomado conta do meu sangue. Anos depois,
ingressei na Radio Capibaribe,
cujos estúdios ficavam no prédio da
então ”Casa Barreira”, uma loja de
auto-peças na Rua Siqueira Campos e os transmissores instalados na Rua Coronel Urbano de Sena, no bairro da
Campina do Barreto, onde estão hoje os estúdios da Emissora.
Rádio Capibaribe -
1961
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Comecei na Radio Capibaribe como produtor, mas exerci outras atividades, como a de repórter e apresentador de
programas. A Jovem Cap, como está
sendo chamada hoje, foi a minha primeira escola radiofônica. Dirigida pelo Sr. Arnaldo Moreira Pinto e seu
filho adotivo, Humberto Pinto, com direção técnica do engenheiro alemão Otto
Schiller, tive a oportunidade de
conviver com outros nomes que participaram dessa fase inaugural: Genivaldo di Pace, locutor noticiarista de grande talento; Edson
Lima e Miriam Silva, Reginaldo Silva, Jocemar Ribeiro, Samir Abou Hana. Cezar Brasil e outros mais. Um dos programas que criei foi “Musicas e
Personalidades” (1960/61), no qual gente
famosa apontava as dez musicas
inesquecíveis, que eram irradiadas juntamente com dados biográficos da pessoa focalizada. Além de escrever programas, estreei como repórter e comunicador,
sempre com o sentido de adquirir experiência, mesmo porque na época a gente
tinha que ser polivalente para trabalhar no rádio.
Novela da Minha Vida: Bibi Ferreira & Eu
Um dos maiores nomes do
teatro brasileiro abriu o camarim que ocupava no Teatro de Santa Izabel e muito humildemente me cumprimentou:
- ”Oi, Miguel. Muito obrigada por estar
aqui conosco. Você vai nos dar uma grande ajuda ao nosso
espetáculo.”
Depois desse encontro, pensei: será que eu sou tão importante assim para receber esse elogio da maior atriz do
teatro brasileiro ?
Juntei-me ao grupo de figurantes que havia sido convocado para participar da peça “La Conchita”, uma
opereta espanhola, com a qual Bibi Ferreira
encerraria a temporada (de 01 a 13 de Setembro de 1956)
no Recife para seguir de navio para uma turnê pela Europa . Era uma noite de sexta-feira. Na
parte da manhã eu tinha ido visitar um
amigo, José Francisco, e o irmão dele, Guilherme, me recebeu como se eu fosse o
salvador do mundo. Foi logo dizendo:
- “Você chegou na hora certa. Esteja as seis da noite no Teatro de Santa Izabel para participar da peça da Bibi. Não falte. E não deu
mais detalhes.”
Jovem aventureiro, 18 anos de idade, não fiz outra coisa. Às seis da noite lá estava eu na porta dos fundos do teatro. Guilherme me
levou até o camarim dos figurantes e me meteram uma roupa meio extravagante e
uma maquiagem da qual fazia parte até um bigode pintado de preto. Tudo isso ia
acontecendo comigo sem que eu viesse a
saber, com antecipação, o que eu teria que fazer no palco. Lá pras tantas, cortina
fechada, ouvi o murmúrio do publico e arrisquei uma
olhada pela fresta da cortina. A platéia do suntuoso teatro estava lotada. Afinal,
Bibi Ferreira era um nome
respeitado e consagrado no cenário teatral brasileiro. Na década de 50,
ela montou um repertorio com sua
companhia e depois de bem sucedidas temporadas no eixo Rio-São Paulo, saiu viajando pelo Brasil com
elenco numeroso e uma produção de alto nível.
Dentre seus maiores sucessos estava
o espetáculo do qual participei, ao lado do então marido de Bibi, o ator Herval Rossano, Wanda Marchetti e Francisco Dantas no elenco.
Mas, como já disse, tudo parecia um sonho. Eu havia experimentado uma sensação um
pouco parecida quando tinha apenas 8 anos de idade. Estudava no Ginásio São Luiz, e fiz
parte de um grupo teatral infantil que inaugurou o teatro-auditorio do colégio
de Ponte D`uchoa. Era um numero que
lembrava as noitadas juninas. Enquanto
se ouvia a
marchinha “Cai, Cai Balão”,
eu e meus companheiros rodeavam uma fogueira
cenográfica E terminava o numero fazendo
uma roda no palco. Foi quando usei a minha primeira calça comprida. Emocionado,
cheguei a desfilar pelo corredor do
Auditório para mostrar que já era um homenzinho...
Com Bibi Ferreira foi um pouco
diferente, porque a emoção foi maior, apesar de que, na primeira noite, eu
realmente ia entrar em cena sem ter feito um simples ensaio e sem saber nada do
que ia fazer. Eu era aquele figurante do empurrão, como caldo-de-cana, feito na hora. No primeiro
ato, os figurantes entravam
em fileira indiana pelos dois corredores da platéia até alcançar o palco. Lá estava eu de mãos
dadas a dois companheiros, terminando
por participar de uma dança de roda. Saímos do palco e retornamos no ato
seguinte. Aí , o cenário era um típico cabaré, com homens e mulheres fumando, bebendo, se beijando e se abraçando, numa autêntica
orgia. Lá estava eu sentado a uma mesa, fazendo que estava enchendo a cara (a bebida era
guaraná). Em dado momento, uma
das figurantes vinha me fazer
caricias e sentava no meu colo. Rolavam
simultaneamente outras cenas semelhantes. A
figurante que estava sentada no meu colo sussurrou no meu ouvido:
- “Agora, você vai me empurrar.
Vou cair no chão e vou sair de cena. Você fica e toma mais um copo com raiva de mim.
Faz parte da cena. Vai, me empurra !”
Eu dei um empurrão prá valer na moça e
realmente ela se esparramou no chão e saiu blasfemando...
Isso acontecia entre o grupo de figurantes – (Na minha mesa estavam Leda
Alves, Cely, Edmilson Catunda e eu).
Talvez, Leda Alves nem se lembre mais disso. Afinal, ela se destacou no movimento
cultural, chegando a ser Secretaria de Cultura
e uma das pessoas mais influentes
do Estado.
Tudo isso, minha gente, foi muito
difícil para mim, porque tudo acontecia como uma grande surpresa. Nas demais
noites, ficou mais perfeito o meu desempenho
artístico. Já havia aprendido tudo na difícil noite da estréia.
Lembro que acabada a nossa
participação, alguns figurantes, como eu, corríam para o camarim, para retirar a maquilagem,
mudar de roupa e, então, seguíamos para
a porta principal do teatro para que o publico nos vissem mais de perto..
Vaidade de artista. Afinal, éramos
coadjuvantes de Bibi Ferreira - a maior estrela do teatro brasileiro. Lembro
que numa das noites, quando eu estava todo empolgado vendo o publico me
reconhecer, uma mocinha apontou prá mim
e disse:
- ”Foi esse cara que empurrou aquela moça
no chão... Você não tem vergonha na cara, não ?”
Desapareceria de cena ali um grande ator
frustrado. Vilão e canastrão, que nunca
mais quis saber de subir num palco de teatro.
FOTO HISTÓRICA
FOTO HISTORICA DA MINHA ESTREIA NO
TEATRO
DE SANTA IZABEL COM BIBI FERREIA (1956). NA MESA, LEDA
ALVES, EU, CELY E EDMILSON CATUNDA. NA ÉPOCA, ESTAVA
COM 18 ANOS DE IDADE.
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Novela da Minha Vida: Novo Rádio
A Televisão havia chegado com gosto de gás.
Será que vai acabar com o rádio ? Era a preocupação de muitos radialistas. Até
porque muita gente boa migrou imediatamente para
o novo veiculo. O interesse pelas novelas radiofônicas foi diminuindo,
os cantores davam preferência à TV e o
rádio sentiu a necessidade de um impulso para sobreviver (alguns pensavam
assim).
Cinco anos depois do advento da TV, o Radio Jornal do Commercio jogava ao ar uma programação
inovadora apelidada de “novo rádio”. A estreia foi numa
segunda-feira, 26 de abril de 1965.
Eu trabalhava como editor de rádio e
televisão nos dois jornais da Empresa – o Jornal
do Commercio e e Diário da Noite – e acompanhei de perto
todas as providencias para o lançamento da nova programação. O gerente geral do
Radio Jornal era o Sr. Luiz Felipe
Vieira e o gerente de programação, Abérides
Nicéas. O Sr. Vieira disse, numa entrevista:
“A nova programação é o começo de uma
série de iniciativas visando a satisfação do nosso publico ouvinte. O radio,
como fator de progresso de um Estado ou de um País, tem de se aperfeiçoar e se
adaptar aos novos tempos.”
Uma caravana de consagrados
artistas nacionais, entre os quais Erasmo Carlos, Sergio Murilo, Wanderléa e Rosemary, veio abrilhantar o lançamento da nova
programação, realizando apresentações nos programas ”Praça da Alegria”, comandado por Walter
Spencer, no sábado, à tarde, e “Varietê”, sob o comando de Jáder de
Oliveira, no domingo, á noite.
A
equipe de produtores do “novo rádio”
era formada por Aldemar Paiva,
Nelson Pinto, Thalma de Oliveira, Alberto Lopes, Ivan Soares, Medeiros Cavalcanti, Wladimir
Calheiros, Geraldo Silva, e Manoel Barbosa.
Integrei essa valorosa equipe como coordenador do “Disco Brinde”, apresentado de segunda a
sexta-feira, as duas da tarde, sob o comando de Nilson Lins. O programa
realizava testes de conhecimentos musicais entre os ouvintes e distribuía
discos entre os premiados, numa parceria com a Fábrica de Discos Rozenblit.
Outros programas se
notabilizaram nessa fase do Radio
Jornal, Como o “Cidade Nua”, apresentado ao meio-dia com
produção de Manoel Barbosa e participação do
elenco de rádio-teatro, interpretando casos registrados nas delegacias
policiais; Nelson Pinto produzia “No Tempo da
Retreta”; Medeiros Cavalcanti fazia o “Almanaque do
Almoço”, aos domingos; Thalma de Oliveira escrevia “Retalhos do
Cotidiano” e era da consagrada Janete Clair a novela “O Renegado”, exibida as 9
da noite, enquanto os programas
esportivos tinham mais ou menos o mesmo espaço que ocupam no rádio de hoje. O discotecário na época
era o Eraldo Mendonça. Lembro que ele
foi enviado ao sul do país, para
adquirir os mais recentes lançamentos fonográficos e todos os demais discos
necessários para atualizar a discoteca, além de uma nova estrutura para
facilitar o atendimento imediato das solicitações dos ouvintes. O departamento
de radio-jornalismo era comandado pelo competente jornalista Artur Malheiros e
o espaço físico foi ampliado para receber mais maquinas de escrever e
redatores.
Ano seguinte – 1966 – Antenor
Aroxa foi contratado para conduzir o programa “Festa de Brotos”, aos sábados, à
tarde, substituindo Walter Spencer. Passei, então, à exercer a atividade de produtor de programas de auditório, experiência que me
levou a fazer a mesma coisa na
Televisão.
O superintendente da Empresa Jornal do
Commercio, dr. Paulo Pessoa de Queiroz, ao meu lado. Momento em que a TV e o Rádio
Jornal eram
homenageadas na cidade de Vitoria de
Santo Antão (1968)
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Novela da Minha Vida: Jornais & Jornais
Sempre gostei de escrever.
Quando estudava no Ginásio São Luiz criei um jornalzinho
manuscrito, que passava de mão em mão,
divulgando eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo
os coleguinhas do segundo período do curso colegial.
Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional de Seguros
de Vida, em 1958, editei o jornal ”O
Timoneiro”, este já produzido em uma
gráfica. Circulava internamente,
com exemplares distribuídos entre
funcionários, corretores e médicos da empresa.
Ainda em 1958 comecei a colaborar
com a “Folha do Povo”, um jornal
criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação ocupava duas
salas no Edifício Vieira da Cunha, na
Rua Floriano Peixoto e aí pude desenvolver todos
os meus desejos de ser um jornalista completo.
Comecei escrevendo uma coluna
sobre o Rádio (ainda não existia a Televisão) e, em seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma
das quais denunciava a retirada de
corpos ainda em estado de decomposição no Cemitério de Casa Amarela.
A reportagem gerou notas de
esclarecimento por parte da Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os jornais da cidade. Como o jornal
apoiava o Governo pensei que fosse afastado, mas recebi parabéns não só porque
o jornal faturou a nota oficial como porque a matéria era verdadeira e ganhou
repercussão.
Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser revisor (um episodio dessa
época faz parte de outro artigo deste trabalho). Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo
jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda
hoje é na Rua do Imperador.
Já existia a Televisão e
passei a editar uma coluna sobre as
atividades desenvolvidas no radio e na TV. Mas, como simples colaborador.
Experimentei vários
pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos. Afinal, comecei mesmo num jornal
comunista e queria esconder o meu nome verdadeiro. Fui até
Francis, um colunista de discos fonográficos.
Foi a partir de 1963 que
efetivamente passei a ser jornalista
profissional atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho
político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste trabalho.
Em 1965 fui chamado pelo gerente
geral do Radio e da TV, Sr. Luiz Felipe Vieira, para assumir a editoria das colunas de rádio e televisão mantidas
pelo Jornal do Commercio (matutino) e Diario da Noite (vespertino). As colunas serviam apenas para noticiar, destacar e enaltecer o que era
feito nas Emissoras pertencentes à
Empresa. Portanto, um jornalismo parcial, que não me agradava. Mas,
tive a felicidade de merecer o apoio e a confiança do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e
TV-Jornal. De temperamento forte e comportamento
obsessivo pelo zelo, pelo respeito e
pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam ter pela Empresa do
“dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por todos. Não é piada, mas houve um caso em que um
funcionário foi pedir um “vale” - um adiantamento de salário - porque a mãe
havia falecido e o Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a
morte de sua mãe”. E negou o
adiantamento. Pois esse dirigente de
quem todos tinham medo era uma pessoa afável comigo. Foi quem me ensinou, dentro das oficinas do
Jornal, a fazer a diagramação das
colunas, arrumando os textos linotipados expostos em calandras e os clichês (fotos). Depois da montagem da
coluna um gráfico tirava uma prova a
gente fazia a revisão e autorizava a publicação. Esse trabalho puramente
artesanal levava pelo menos uma hora e
era feito pela manhã (para a edição do “Diário da Noite”, que circulava à tarde)
e à tarde (para a edição do “Jornal do Commercio” que circulava no dia
seguinte). O sr. Vieira e o gerente de programação do Radio Jornal
aprovaram a minha indicação para coordenaro programa “Disco Brinde”,
comandado por Nilson Lins.
Posso assegurar que o sr.Vieira foi
um dos que contribuíram para que eu conquistasse um
espaço no jornalismo pernambucano, ampliando meus horizontes em relação também
ao rádio.
Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”. Esta foi publicada no dia 15 de outubro de 1965.
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Novela da Minha Vida: Linha Virada
Foi Fernando Spencer, que
escrevia uma coluna de cinema na Folha
do Povo, onde eu colaborava também com uma coluna sobre o rádio, quem me
informou que havia uma vaga de revisor no Diário
de Pernambuco. Depois de um teste, ingressei no secular Diário exercendo uma função
extinta no jornalismo de hoje. Naquele
tempo, o texto original escrito pelo redator ia para as oficinas gráficas e o
linotipista transformava o texto em
linhas gravadas no chumbo quente da linotipo.
Essa nova impressão seguia em forma
de uma prova, juntamente com o texto
original, para ser cotejado pelo revisor.
A tarefa consistia em comprovar as duas versões e observar se havia algum erro. Assinalado algum erro, o material era
devolvido para que a linha em chumbo fosse corrigida. O revisor era o
meio-campo entre a redação e a oficina
gráfica. Eu, pelo menos, quase não conhecia ninguém
da redação. Ao sair do
jornal, encontrava na calçada Antonio Camelo, Joezil Barros, Gladstone Vieira Bello e outros nomes da
cúpula do jornal.
Comecei no prmeiro turno do expediente
da revisão, no período da tarde. Como
todo principiante cheio de orgulho por estar trabalhando no maior jornal do Nordeste
do Brasil naquela época, iniciei revisando textos sem maior importância,
como, por exemplo, os anúncios
classificados, os roteiros de cinema,
teatro, anúncios fúnebres, matérias avulsas, etc.
Sempre tive maior aptidão pelas letras. Gostava
de ler e escrever. Não foi difícil a tarefa. Ao me desenvolver no trabalho, fui
transferido com excelente vantagem financeira para o turno da noite – das 7 a 1 da manhã. A família
protestou, mas naquela época não havia a
insegurança que domina as ruas nos dias de hoje. Saia
do jornal, na
Praça da Independência, seguia
pela Avenida Guararapes e na calçada do prédio dos Correios tomava o
ônibus-corujão em direção à minha casa no bairro de Parnamirim. Trabalhar no período em que o jornal fechava
a edição era da maior responsabilidade.
Matérias mais importantes passavam pelas minhas mãos, como, por
exemplo, a crônica de professor
Aníbal Fernandes, o editorial do jornal,
as chamadas de capa, inclusive as
legendas das fotos que ilustravam a primeira
pagina. Uma certa noite, com a
cabeça pesada pelo sono, aconteceu o que
eu considerei a minha primeira grande tragédia profissional. Deixei passar uma linha virada na primeira
pagina. A linha de texto foi impressa de cabeça prá baixo. Erro imperdoável. E
na capa do jornal, nem se fala. Ao
entrar no elevador, o ascensorista foi logo dizendo: - “Tem um aviso aqui prá você se dirigir à Superintendência.”.
E
o elevador me deixou no terceiro andar. O superintendente era o dr.
Fernando Chateaubriand, filho de Assis
Chateaubriand, o todo poderoso fundador dos Diários Associados, na época a maior cadeia de jornais e emissoras
de rádio e televisão do Pais.
A secretaria me anunciou e eu
entrei na sala como se estivesse carregando um saco de 50 quilos na cabeça.
Encontrei atrás de um amplo birô de madeira de lei um cidadão de quase
dois metros de altura, que foi logo perguntando:
- O senhor foi o revisor
disso aqui ? - e apontou para o jornal na mesa, com um circulo vermelho
no texto, onde se encontrava a fatídica linha virada. Não havia outra resposta, já sabendo por
antecipação que estava demitido sumariamente.
- “Fui eu, sim senhor.”
- “Por que isso aconteceu ?” –
quis saber o “todo poderoso”.
- “Estava muito cansado, o sono me pegou.” –
confessei.
Aí, veio a grande surpresa. Dr.
Fernando olhou prá mim, acreditou talvez na minha sinceridade, e deu um exemplo
de vida que sigo até hoje: - “Sabia que
quando está revisando o jornal o senhor
é mais importante do que eu, que sou o superintendente ?”
Respondi que não sabia. Ele
apertou a minha mão e se despediu assim:
- “Procure superar o sono e você
será um vencedor na vida. Vá em frente e que isso jamais se
repita.” - O saco de 50 quilos que parecia carregar despencou da minha cabeça, mas da minha
memória esse fato jamais se apagou.
Secular prédio do Diário de Pernambuco,
na Praça da Independência.
Atualmente, o Jornal tem nova sede no bairro de Santo
Amaro |
Novela da Minha Vida: Última Hora
Em 1963, um ano antes da Revolução
Militar de 64, eu ingressava no Jornal Ultima Hora, edição Nordeste, cuja sede ficava na Rua Visconde de Goiana, na Boa Vista. Para mim, uma escola de jornalismo de alto
nível, Independente de sua linha política, já que apoiava Miguel
Arraes, tido como defensor do regime comunista.
Minha coluna de estréia foi publicada no domingo, 11 de agosto de 10963.
O diretor era Mucio Borges da Fonseca. O editor geral: Ronildo Maia Leite. Na chefia do departamento fotografico, Clodomir Bezerra. Assumi a editoria de rádio e
televisão. Escrevia uma coluna que não ultrapassava um quarto de
pagina. Diariamente. Dava noticias,
fofocas e
entrevistas curtas com gente
que atuava nos meios de comunicação.
Tudo dentro do ritmo dinâmico
do jornal que primava por matérias polemicas, linguagem objetiva
e direta, evitando os clichês costumeiros dos demais periódicos. Recordo de um fato que não se passou comigo, mas que me impressionou
bastante. Um fotografo do jornal, cujo nome não me recordo, foi designado
para fazer a cobertura de uma procissão no centro da cidade. Recomendação
do editor:
- “Não quero fotos de andor, nem de
padre, nem de freira. Quero uma foto
expressiva para ilustrar matéria de primeira página. Se vire.”.
E o fotografo saiu da redação
com uma preocupação na cabeça. Durante
toda a procissão fez dezenas de fotos, mas em todas aparecia uma parte do andor, ou um padre ou uma
freira. Não sabia mais o que fazer para atender o pedido do editor. Já
retornando à redação, avistou uma
criancinha fantasiada de anjo, com as mãos postas como se estivesse
rezando. Tacou o dedo no clique da
máquina. Foi essa a expressiva foto ;
primeira pagina do jornal.
Essas provocações eram comuns na
redação. O obvio não era o ideal. As inovações eram bem
aproveitadas. Uma linha de matéria redacional poderia dar uma manchete de
oito colunas, como aconteceu comigo.
Certa feita, escrevi na coluna:
- “FPF vai proibir o vídeo-tape do
futebol”.
Foram só
essas cinco palavras, sem maiores comentários. O fato me foi confidenciado por
um diretor de Televisão, porque na época o futebol era gravado para exibição na
noite do mesmo dia. Quando abri o jornal no dia seguinte, lá estava a frase em
letras garrafais de canto a canto da pagina, encabeçando a minha coluna. A repercussão foi grande, mas graças a Deus
ninguém contestou a nota. Se não, eu
estaria sumariamente demitido. Eram colunistas do jornal: Marcel (Sociedade); M. Barbosa (Cidade Nua); Lula Carlos (Bola na Rede); Celso Marconi (Cinema); Wilton de Souza (Artes plásticas), Carlos Garcia (Economia), Stelio Gonçalves (Luzes da Cidade), entre outros.
Sem querer ser redundante, fiquei na Ultima Hora até a sua ultima hora, 10 horas da manhã do dia 1 de
abril de 64. Entreguei minha matéria na redação e me preparava para sair, Ronildo
Maia Leite fez o pedido:
- “Quando você chegar no centro da
cidade, observe se há algum movimento do Exercito e liga prá gente.”
Jovem, sem muito conhecimento dos
rumos da política, não soube avaliar o dramático significado daquele pedido. Naquela mesma
manhã não cheguei a dobrar a
Visconde de Goiana em direção à Avenida Manoel Borba, andando porque não tinha carro. Os caminhões carregados de soldados do
Exercito seguiam em direção ao jornal
para empastelá-lo.
Segundo Ronildo Maia Leite: - “Ultima
Hora era um jornal que nada temia e pagou caro pela ousadia.”
Fim melancólico de uma verdadeira
escola de jornalismo, criada por Samuel Wayner, onde aprendi
muito convivendo com gente que realmente sabia fazer jornal.Novela da Minha Vida: As Revistas
Não me perguntem como nem por
que, mas o certo é que assumi a tarefa de ser
representante-correspondente da já extinta Revista
do Radio, que
na época era a publicação semanal
segunda colocada em vendas em todo o
Brasil (a primeira era a Revista
“O Cruzeiro”). A Revista do Radio era dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos e
tinha como secretário de redação Borelli
Filho. As duas paginas centrais eram ocupadas pelos “Mexericos da Candinha”,
onde os artistas mais consagrados eram visados pelas fofocas e
disse-me-disse. Aliás, nessa época só
existia o rádio e a Nacional do Rio era a mais poderosa Emissora do País,
cujo “cast” reunia os maiores nomes da
musica brasileira. A Revista promovia concursos, entre os quais o que revelava a Madrinha do
Radio e a disputa entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba chegava a
empolgar meio mundo, com comentários em todas as rodas.
A coluna que escrevia era “Rádio de
Pernambuco”. A matéria era enviada pelos correios, razão por que existia a preocupação de mantê-la mais atualizada
possível porque chegava na redação da revista com alguns dias de
atraso. Eram pequenas notas sobre o rádio que se fazia em
Pernambuco (novos programas, os artistas que mais se destacavam, as fofocas,
etc), com uma ou duas fotos no
máximo. Era minha tarefa tambem promover a revista nos meios de comunicação.
Sempre que
era autorizado pela Editora
distribuía exemplares nas portarias dos programas de auditório da Radio Clube e Radio Jornal. Quando esteve no Recife, Anselmo Domingos me convidou para trabalhar
na sede da Revista, no Rio de Janeiro,
mas o apego à família e a minha própria idade
(pouco mais de 20 anos) me
impediram de seguir outro rumo na vida.
Foi nessa época que a Televisão
surgiu e fui convidado para atuar na Revista TVlandia, que nascia como um
guia de programação semanal das TVs Jornal e Clube. A primeira publicação
circulou no dia 19 de junho de 1961, com a foto
de capa da atriz. Floriza Rossi. Eu assinava uma pagina sobre o Radio. Outros
colaboradores: Hilton Marques (hoje produtor do programa de Jô
Soares); o saudoso ator e diretor teatral Luiz Mendonça, fundador do espetáculo
da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém; Renato Melo, produtor de TV,
entre outros. A revista era dirigida pelo publicitário Oliveira Junior e por
Geraldo Mayrink, que tinha uma agencia de registros de marcas e
patentes. Rildo Uchoa integrava a
direção cuidando da publicidade e a Acê Filmes, de Alcir Lacerda, criava as
fotos.
Os artistas que mais
figuravam nas capas: Heloisa Helena, Floriza Rossi, Arlete Sales, Nair Silva,
Penha Maria, Nel Blue, Geraldo Liberal. Depois de alguns meses de
circulação, assumi a editoria geral da Revista, que era editada pela Gráfica
Ilha, que funcionava no bairro de São José.
Quatro meses depois de
circular gratuitamente, TVlandia
passou a ser vendida nas bancas. Uma tiragem media de 1.500 exemplares semanais, um marco na historia dos
periódicos que existiram até hoje em
Pernambuco.
Capa da Primeira Edição da Revista
TVLANDIA (1961)
|
A partir de fevereiro de 1962 a TVlandia passou ao comando do
radialista e publicitário Josenildo de Souza Leão, mais conhecido como
César Brasil. Outra equipe foi formada:
Adel Barros na gerencia geral e os colaboradores
Ednaldo Lucena, Waldemar Garcia, Mário Sabino, Emanoel Rodrigues e outros. A
TVlandia viveu até meados de 1963, quando foi criada a Canal,
outra revista tipo de bolso, com o mesmo
objetivo. Dirigida pelo casal de atores Jorge Ramos e
Fernanda Simões, com secretaria de Miguel
Santos e uma equipe de colaboradores de peso: Dias da Silva, famoso
psicólogo; o teatrólogo Alfredo de Oliveira e os jornalistas Romildo
Cavalcanti e Isaltino Bezerra. Um ano depois de criada, mudou de direção.
Assumiram o publicitário Waldir Machado e o artista plástico Wellington
Virgolino, com a colaboraação editorial de Fenando Spencer, Redomark Viana, Wilton de Souza e Fernando
Bastos. Canal circulou até meados de 1965. Sempre com uma tiragem média de dois mil exemplares
semanais e uma boa aceitação por parte
do publico.
NAIR SILVA FOI A CAPA INAUGURAL DA
REVISTA CANAL
Entrevistando Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio |
Novela da Minha Vida: TVU - 27 Anos no Batente
A placa ainda existe na
recepção. Está escrito: “Com a alta finalidade de ampliar os horizontes da
Educação e de elevar o nível da Cultura do povo do Nordeste e do Brasil, foi
instalada esta primeira Televisão Educativa, Canal 11, pela Universidade Federal de Pernambuco.
Presidente da Republica: Marechal Arthur da Costa e Silva. Ministro da Educação
e Cultura: Prof. Tarso Dutra. Magnífico Reitor: Prof.
Murilo Humberto de Barros Guimarães. Vice-Reitor: Prof. Jônio Santos Pereira de
Lemos. Coordenador Geral da TV-Universitaria: Prof. Manoel Caetano Queiroz de Andrade. Recife, 22 de Novembro de 1968.”
Integravam o quadro dos primeiros
diretores: José da Costa Porto (diretor
administrativo); Nédio Cavalcanti
(diretor técnico); Jorge José Barros de
Santana (diretor de produção); Milton
Baccarelli (diretor de tele-teatro); Mayerber Loureiro de Carvalho
(diretor de programação). Havia
também um núcleo de Musica,
dirigido por Rafael Garcia. Na TVU nasceram o Quinteto Violado e a Orquestra
Armorial.
Ingressei na TVU como produtor, indicado por Mayerber de Carvalho, uma das pessoas que mais contribuiu para o
meu desenvolvimento profissional. Comecei como
produtor de programas culturais. O primeiro tinha por titulo “Showclopedia”, que estreou
em abril de 1969, lembrando uma enciclopédia em vídeo. Um dos programas de maior repercussão, do
qual participei junto com Sergio Kyrilllos,
foi “A Noite é do 11” , comandado por José Maria
Marques. Em convenio com a Secretaria Estadual de Educação era desenvolvida uma
competição cultural com a participação das escolas. Para evitar a disputa
antipedagógica Escola x Escola, a briga
era alunos x alunas. Meninos contra as meninas, disputando quem acertava mais
perguntas sobre conhecimentos gerais. Nessa linha cultural, integrei a equipe
de produção do programa “A Alma Encantadora das Ruas”.
Durante 8 anos fui o produtor do programa “João Alberto Informal”,
apresentado pelo jornalista João Alberto Sobral. Exercí a coordenação da equipe esportiva que gravava os jogos do
campeonato e
cheguei a participar como
repórter da inauguração dos estádios estaduais de João Pessoa e Campina
Grande,
Em 1971,
a OEA – Organização dos Estados
Americanos – patrocinou o Projeto
Multinacional de Televisão Educativa,
com o propósito de promover o
intercambio de técnicos entre os países que desenvolviam tecnologias
educativas. Fui escolhido para representar o Brasil, juntamente com a companheira Ivanise Palermo. Designados
para as cidades do México (D.F) e
Bogotá, Colômbia, participamos da experiencia durante
dois meses, de 18 de março a 11 de maio de 1971.
Professor e alunos do Curso de Radio
Educativo – Porto Alegre - RS
|
ATVU me proporcionou outras viagens. Participei de
um Curso de Radio Educativo, patrocinado
pelo Prontel – Programa Nacional de Teleducação, do MEC, e que foi executado pela Fundação
Educacional Padre Landell de Moura, FEPLAN. O curso foi ministrado pelo produtor da BBC, de Londres, prof. John Volden e
teve como local um centro educacional mantido pelos Irmãos Marista, em Viamão,
na região metropolitana de Porto
Alegre.
Ainda como representante da direção
da TVU participei de várias reuniões de dirigentes de
Emissoras Educativas do Brasil. Esses
encontros ocorriam todos os anos sempre
numa capital diferente – Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre,
Terezina, Fortaleza, Manaus.
Durante 27 anos exerci várias
atividades no Canal 11. Depois de ingressar como produtor, fui repórter,
apresentador de programas, chefe do departamento de jornalismo e vice-diretor,
quando resolvi me aposentar em
1992.
Como diretor de Jornalismo da TVU, sendo
cumprimentado por
dirigente do MEC. Na foto, o dr.
Francisco Dário Mendes da Rocha, Diretor
Geral do Canal 11 e o vice-reitor Armando Samico, da UFPE |
Com as colegas Wanda
Phaelante e Alice Rolim |
Comandado pelo saudoso apresentador José
Maria Marques, o programa “A Noite é do
|
RUI CABRAL E LUIZ MARANHÃO FILHO
Foram companheiros de todas as horas na
TV-Universitária.
O saudoso Rui Cabral se notabilizou
com o quadro “Cadeira de
Engraxate”, na TV-Jornal, chegando a
entrevistar o então Presidente da Republica, Juscelino Kubstchek. Maranhão, experiente professor universitário na área da Comunicação Social, advogado e escritor, foi diretor administrativo e de Jornalismo
do Canal 11. Tivemos alguns “pegas”, mas todos imbuídos da vontade de fazer o
melhor pela Primeira Televisão Educativa do Brasil.
Novela da Minha Vida: Carnaval pela TVU
Na década de 70 o folião se divertia,
preferencialmente, de duas maneiras: os que tinham mais dinheiro para gastar
iam aos clubes sociais (Português, Internacional, Cabanga, Sport,
Nautico, etc.) onde as grandes
atrações eram as orquestras contratadas
para tocarem nas quatro noites de Carnaval comandadas pelos maestros Nelson
Ferreira, Guedes Peixoto, José Menezes,
Clovis Pereira, Duda, etc. A outra forma,
mais popular, era assistir, no centro da
cidade, aos desfiles das agremiações carnavalescas, que recebiam subvenções da
prefeitura para ajudar nas exibições perante o publico. Algumas agremiações chagavam a arrastar grandes torcidas ao espetáculo. Entre
elas estavam o Clube das Pás, Estudantes de São José, Gigantes do Samba,. Galeria
do Ritmo, Vassourinhas, Lenhadores, Bloco Batutas de São José, Banhistas do Pina, Caboclinhos Sete Flechas,
e tantas outras. Local dos desfiles:
Avenida Dantas Barreto, num trecho próximo ao Pátio de São Pedro, onde eram
montados palanques para as autoridades e arquibancadas para o publico.
A TV-Universitária tinha uma programação voltada para a educação
e a cultura e práticamente 80% era produção local. No Carnaval, a TVU se notabilizava ao transmitir os
dois grandes bailes pré-carnavalescos – Bal- Masque e Baile Municipal e os
desfiles das agremiações. Tanto nas quatro noites como no desfile das campeães a Emissora fazia o registro de tudo,
conquistando uma audiência realmente invejável.
Participei desse
trabalho, exercendo as atividades
de apreserntador e repórter, e ainda
cheguei a comandar um programa na noite da quarta-feira de Cinzas,
intitulado “Balanço do Carnaval”,
reunindo jornalistas, radialistas, dirigentes de agremiações e da Comissão Organizadora do
Carnaval, quando eram analisados os fatos positivos e negativos dos
festejos. Esse programa conseguia
movimentar os carnavalescos, que
Sempre o aguardava com certa ansiedade.
Não posso deixar de reconhecer que
fazia tudo com muito entusiasmo e
empolgação . Era um torcedor
inveterado, que lutava pelo engrandecimento do
Carnaval mais popular, aquele que
nascia na alma da gente humilde dos
bairros mais proletários da cidade.
Infelizmente, a violência e o custo de vida foram modificando hábitos e costumes do nosso povo. Os
desfiles das agremiações já não despertamo interesse da população,
poucos são os bailes carnavalescos e já não existem frevos como
antigamente.
Sem ser saudosista demais, acho que o
Carnaval mudou para pior,lamentavelmente.
Programa “Balanço do Carnaval” - TVU |
Miguel Santos,Jader de Oliveira e Zuca Show. |
Novela da Minha Vida: O Repórter
O material era editado para
tirar as falhas e o editor tinha que redigir o texto de acordo com o tempo útil do filme finalizado . No caso do
mini-tape, o custo era menor, não havia muita dificuldade para editar e o
repórter podia fazer a narração e/ou
a entrevista simultaneamente com a capitação das imagens, como acontece hoje em dia. Quando ocupava a função de repórter na TV Universitária tive o privilegio de
ser um dos primeiros repórteres a utilizar o vídeo-tape portátil, mais
conhecido por mini-tape, que substituía
as câmeras de filmagem em 16 milimetros. O filme cinematográfico era mais caro e mais complicado. Exigia
laboratório para revelar as filmagens feitas.
O primeiro vídeo-tape portátil adquirido pela TV-U consistia em uma câmera e um gravador, que
fazia a gravação em fita magnética. Prático porque quando não
precisava de edição a matéria era transmitida imediatamente.
Com a mobilidade do VT portátil fiz
algumas matérias inéditas. Por exemplo: mostrar todo o funcionamento do tradicional
farol de Olinda. Fui talvez o primeiro repórter de TV e chegar
na área onde a enorme lâmpada gira durante
a noite orientando os navios que passam pela costa pernambucana. Foi
preciso autorização do Comando da Base Naval para a realização da
reportagem.
Outra matéria cheia de lances
emocionantes foi o acompanhamento da Buscada de Itamaracá, num
barco meio rústico, que exigiu muito equilíbrio e sangue frio da equipe. O mar
agitado quase jogou o câmera e o seu equipamento no
mar. Mas, conseguimos realizar a proeza
a tempo de exibir o vídeo no
programa “A Noite é do 11” , comandado por José Maria
Marques.
Quando o novo comandante do Segundo
Comando Aéreo foi realizar a sua primeira
visita à Base
Aérea de Natal (RN),
o mini-tape o acompanhou.
Viajamos num avião militar, documentamos a cerimônia de apresentação do novo comandante e retornamos ao Recife. Na
volta, o piloto achou por bem
sobrevoar o litoral num vôo rasteiro. Quase botei o intestino pela boca...
Mais dramática foi a explosão da “Fábrica de Pólvora Elephant”, que
existia em Pontezinha, no Cabo de Santo
Agostinho, em 1995.
Estava com a pauta da manhã
voltada para a chegada no aeroporto do então
Ministro da Educação, Paulo
Renato Souza Matéria recomendada até pela
TV-Educativa, do Rio de Janeiro.
No exato momento em que uma
Emissora de Rádio divulgou a ocorrência, que matou sete operários e deixou mais
de dez feridos, segui para o local, mesmo contrariando a minha equipe que achava mais importante a chegada
do Ministro. Com a câmera postada na frente da fábrica, fiz a
“cabeça” da matéria (repórter em
primeiro plano da ocorrência) registrando ao fundo a passagem das
ambulâncias conduzindo as vitimas. Terminado o trabalho, voltei a tempo de alcançar
o Ministro e gravar a coletiva de imprensa na sala vip do aeroporto.
Quando cheguei na redação levei uma
bronca do meu chefe, Luiz Maranhão Filho, alegando que
havia me arriscado muito e, contrariando a pauta, poderia ter perdido a entrevista com o
Ministro, que era muito mais importante.
As duas matérias foram enviadas,
naquele tempo via Embratel, para a edição nacional do Jornal da TV-Educativa, que era transmitido para todo o Brasil. E a surpresa
foi quando o jornal abriu com a matéria da explosão da fábrica. A entrevista com o
Ministro foi exibida no ultimo bloco do jornal.
Essa mesma fábrica de pólvora foi transferida para o município de
Barreiros, na Mata Sul do Estado, e voltou a explodir em 2013, fazendo novas
vitimas.
Reportagem na Base Aérea de Natal (RN), em 1971,
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